A vida toda fui classificada como ' a mala' da familia. Voila! Decidi assumir meu titulo de corpo e alma. Sim, eu sou mala! Confesso, sou mala. Realmente sou mala...e bota mala nisso. Eu finalmente me diagnostiquei: mala. Psicopatologia: mala tipo A, sem sintomas psicoticos....(ainda!). Eu tava pensando sobre o que escrever para o dia das maes, ja que muitas leitoras queridas que sempre deixam comentarios sao (ou estao para ser) maes. Nao sabia bem o que dizer. Ai pensei em falar das maes imperfeitas. Mas ai... graças ao meu irmao que me fez relembrar meu titulo de honra, resolvi falar sobre as maes-mala. Na verdade talvez eu seja a unica neste sub-tipo de maes, dai vou falar sobre eu mesma. Paciência. Mas uma coisa que sempre me irritou nas comemoraçoes dos dias das maes, sao aquelas figuras de maezinhas, gravidinhas, meiguinhas, cheias de amor pra dar. (Alias, detesto mulher meiguinha...mas isso é apenas mais um sintoma da minha malice!) Esses retratos e poemas de mae=amor=paciência=dedicaçao... Qual é? Maes nao sao perfeitas nao. E ainda bem. Que saco seria se fôssemos! Parem de nos colocar nesta obriga. A gente cresce ouvindo que mae é uma coisa linda e maravilhosa e perfeita e meiga (argh!). Ai, depois da primeira noite em claro que tu tem vontade de enviar a criatura (no caso teu lindo bebezinho perfeito e gordinho) para um lugar...digamos...pra casa da vovo.... ai tu quase morre de culpa. Tudo bem , ser mae é maravilhoso: concordo e assino embaixo, mas é dificil também, é uma experiência incrivelmente intensa e da qual (muito infelizmente) acabamos por nao ter apenas boas lembranças. Nao exatamente por causa do bebê inocente que nos olha com cara de 'qual é o teu problema?' quando estamos quase chorando depois de nina-lo até as 2h da manha. Desculpe ai... eu me irritei, chorei, me escabelei, depois aos poucos me acalmei e..recomecei. Pas le choix! Bom, a estas alturas todo mundo ja deve estar concordando plenamente em dizer que eu sou mesmo uma mala. Sou.Sou.Sou. E nao nego. (Alias acho que eu nao sou apenas uma mae mala, sou uma mulher malissima, uma filha mala-sem-rodinha...mas estas outras categorias ficam prum outro post). Mas como mae eu me supero como mala. Vejam a rotina de uma mala. De manha, ja começo. As vezes acordo atrasada. Ai ponho as crias pra correr atras de mim..mas sem antes (ah, essa é mala mesmo) colocar um copo gigante de leite com nescau na frente deles (so pra garantir que os pimpolhos vao bem alimentados para escola). Preparo a boîte a lunch em cinco minutos, mas nunca esqueço (pra furia do Pedro) uma fruta, um legume, um queijo, um prato principal e um suco. Mala. De tarde..mesma coisa. Chego em casa ja preparando a comida (aqui ninguém morre de fome). Mais salada. Meus pobres filhos estao virando pequenos bezerros de tanto leite e verde que comem. Depois tem a hora do tema, da brincadeira, do banho e...ops...oito e meia...cama! Quer coisa mais mala? Uma criatura que mais parece uma cronometrista de capeonao de nataçao. Bom, fim-de-semana eu relaxo...um pouco. Mas tem outras malices. Espetaculo de fim-de-ano. Teu filho ta la no meio, bem tranquilo...Bom, os meus nunca estao muitos tranquilos. Do palco eles me olham esperando o momento que o Rudi vai me alcançar um papel higiênico que ele amasou no bolso justamente pra me secar o rosto quando eu cair no choro. Muito cedo meus filhos entenderam que a mae deles tinha uma particularidade interessante: ela chora tanto de alegria quanto de trsiteza. Ou seja...chora. Coisa de mala chorar em publico (essa é de mala mesmo: sem roda, sem alça e sem marca). Mas sempre chorei e vou continuar chorando, nao tem jeito. Ano passado no espetaculo da escola eu sabia a musica todinha que eles iam cantar. Ai o professor de musica, que era o regente do show, la pelas tantas aponta para a platéia para que cantassemos com eles. Adivinha quem pagou o mico de levantar primeiro e começar: Ça fait rir les oiseaux, ça fait chanter les abeilles... Ou seja, mala e pagadora de mico ainda por cima. Mas eles riam que so. Acho que neste ponto ja estao se acostumando com a malice. Outra minha: dar beijo. Essa eles ja estao me cortando. Quando vou buscar na escola o Pedro afasta levemente a cabeça e me abana a maozinha: Salut maman...ça va? Traduçao: sai de mim, véia...vê se te flagra! Tem varias outras malices que fazem de mim, segundo o Rudi, muito mais que uma mala: uma caixa de papelao molhada na rodoviaria..ah...cheia de livros. Mas fazer o que? Eu tento ser o melhor que consigo mas nao, nao é facil. E nao é facil quando a gente quer ser mae sem sacrificar nada por causa disso. Como sempre amei minha profissao, desde o inicio meu maior medo era algum dia deixar um filho meu entender (mesmo sem querer) que eu sacrifiquei alguma coisa na minha vida por que fui mae. Esse era o meu maior pânico. Ai, resolvi querer tudo e...é claro..pago um preço por isso. Mas tudo bem. Eles que se acostumem com a mae que têm. E carreguem a mala. Afinal, cada um com seus problemas!
PS: pra todas as maes que nao sao malas, parabéns pelo seu dia, aproveitem e continuem assim.
Para aquelas que, por acaso, tenham se reconhecido como um pouquinho malas... o que dizer? Na falta de um dia das malas...feliz dia das maes também. E...bem-vindas ao clube!