Wednesday, August 29, 2007

Paresse!

Pois é... Hoje me bateu uma pre-gui-ça....daquelas! Depois de toda a correria dos ultimos dias, acabei de acabar e enviar pra revisao um trabalho e me voici...paresseuse! Nao é dizer que seja meu estado de alma predileto...mas fazer o quê? De vez enquando ela vem e...ai...sai de mim, minha filha! Tenho varias amigas que nao acreditam que eu tenha este tido de estado de alma, por isso, hoje venci minha preguiça de escrever este post e aqui estou. Mas de que que eu ia falar mesmo...uuuaaahhhh!!!! Ah, ta!
Sabe que na vagabundagem de um dia de preguiça inevitavel, irremediavel e inescapavel, resolvi fuçar no meu proprio blog. Fazia horas que eu nao fazia isso e tava mesmo com um pouquinho de saudade de...mim mesma, eu acho. Mas ai, fui lendo alguns posts e fui me dando conta do numero de pessoas que passam por aqui lendo as minhas baboseiras. É...pelo jeito todo mundo tem seus dias de preguiça nesta vida!heheeh Sabem que eu nunca coloquei filtro nos comments dos meus leitores. Talvez isso fosse uma boa idéia, mas minha dinossaurisse internetica nao me permite. Mas mesmo assim, nunca recebi declaraçoes de odio explicitas. Também nunca apaguei nenhum comentario. Acho que quem nao gosta, simplesmente nao vem aqui. Assim como eu faço quando visito alguns blogs que acho meio nada a ver. Nao volto mais. Acho bem civilizado isso. Ninguém te obriga a ler. Nao lê.
No entanto, coisa querida sao os comentarios que ja recebi. Claro que, meus amigos pessoais, preferem escrever pro meu e-mail e ja aproveitam pra me contar a vida deles também. Espertinhos...eles nao querem toda essa exposiçao nética. Mas o que me impressionou hoje, relendo os comments, foram as pessoas que eu nunca vi na vida e que nos acompanham. Coisa querida, mesmo! Nao vou conseguir lembrar do nome de todo mundo, entao se você ja colocou um comment fofo aqui, sinta-se agradecido. Fui olhando os nomes das pessoas e clicando para ver se abriam blogs...uns sim, outros nao. E uns nao escrevem a algum tempo. Me peguei pensando: puxa, onde sera que anda o Fulano e o Beltrano? Escreveram em maio e nunca mais... Ou seja, eu acabei querendo também ter noticias destas pessoas que vem aqui ter noticias da gente. De uns eu tive, de outros, nao. Mas tudo bem. Foi tanta gente legal! E fora aqueles que, um belo dia, resolvem escrever e dizem que ja lêem a muito tempo, mas nao tinham escrito ainda. Direto eu penso: como assim? Por que nao escreveu antes? A gente acaba gostando de receber comentarios queridos...o ser humano gosta de ser amado, nao tem jeito. Virtualmente ou nao.
Sabem que muitas vezes eu penso em parar de escrever. Minha mae, que agora é expert no que diz respeito a achar e entrar no meu blog, vai dar um salto da cadeira. Mas é verdade. É que o que eu gosto mesmo de escrever, é que vem de dentro do coraçao, e na real, tô começando a achar que é mesmo muita exposiçao. Se for pra ter blog so pra descrever passeios, compras, mandar beijos, etc, acho que nao vou ter saco. Escrever sobre a gente mesmo nos ajuda a organisar a vida, botar ordem nas idéias e nos sentimentos, rever as situaçoes depois que saimos do calor do momento. É muito bom! Talvez eu esteja a fim de escrever algo mais pessoal e nao na internet. Talvez eu esteja mesmo precisando do 'meu querido diario'. Talvez. Sei la. Ou talvez seja apenas o meu dia de preguiça.heheheh
Mas voltando aos 'amigos' do blog...sao mesmo uns queridos. Até por que aqui ninguém acha nenhum link de utilidade publica ou links para outros blogs (graças a minha dinossaurice, como eu disse antes), o que me faz crer que quem entra aqui, quer ler (talvez desista no meio, mas a intençao é o que conta...hehehe). Fico bem bem honrada com isso. Até por que meu 'estilo' (se isso pode ser chamado de estilo) literario, também nao é dos mais cleans: meu teclado é moche e por isso mesmo eu decidi escrever como eu falo (tava, véio, tô, saco...)... coisas chiques (sorry Quintaninha!). Tanto tempo lendo, estudando e amando a lingua portuguesa pra escrever assim (pra...)! Ainda por cima sempre faço umas revisoes cachorras de 30 segundos e meus posts sempre ficam com diversos erros de datilografia. Haja paciência! Entao acho que a galera que lê, acha mesmo divertido é acompanhar a saga. Mesmo que isso seja apenas uma ilusao. Tipo, sabe o Big Brother? Eu so via os compactos que a Globo passava na terça de noite. E ficava com a impressao que tava por dentro. Até que encontrei uma pessoa que via tudo, mas tudo mesmo. Incrivel! A criatura acordava de manha e ja ligava no tal canal pago e ficava acompanhando o dia todo (pe-la-mor-da-va-ca-jér-sey!!!!). Conversando com essa criatura de sanidade mental duvidosa, me dei conta que finalmente, eu nao estava tao bem informada assim (o que, na real, nao teve nenhuma importancia maior na minha vida). Acho que os blogs sao um pouco essas ediçoes da Globo: so os melhores (ou piores) momentos. Mas a vida mesmo...é diferente. Nao é melhor, nem pior...so diferente.
Bom, agora vou ter que deixar minha preguicinha por aqui ja que tem uma tese de 375 paginas que esta esperando no porta-mala do carro para ser lida. Alias, ja faz uns dois dias...
Pra acabar, nao vou pedir pros queridos comentarem mais, nem pra eles nao me deixarem aqui sozinha no estaço virtual sniff, sniff, hehehe. Sinceramente, eu nao escrevo para que vocês comentem, eu escrevo o que eu tô afim...agora...se tiverem vontade de comentar eu vou sempre adorar. Et merci encore!

Tuesday, August 21, 2007

Rentrée

Periodo de rentrée.Volta a vida 'normal': crianças na escola, atividades extra-classe, trabalho de segunda a segunda, super uma vez por semana, 4 boîtes a lunch por dia, aula de inglês, de francês, de ginastica, manicure brasileira, salto alto (as vezes), metro, fim-de-semana lotado, insonia antes da entrega dos trabalhos, mais pesquisa, mais encontros, congressos...uffs! Ça commence! Mas é bom. Desde que me entendo por gente tenho bastante saudade desta vida quando chega o fim das férias. No fundo acho que eu adoro a correria. No fim da facul, quando eu tinha dois bebezinhos, 5 disciplinas e mais um estagio, uma supervisora dizia que nunca viu uma pessoa como eu: mais coisas eu tenho pra fazer, melhor elas saem. Tenho ca minhas duvidas se 'melhor elas saem', mas a verdade é que eu nao sei ser de outro jeito. Simplesmente nao sei. Ja até pensei em fazer um retiro budista, mas enquanto planejava a minha ida me peguei pensando que o retiro seria uma boa oportunidade de acabar alguns trabalhos, oganisar a agenda, etc. Ou seja, meu retiro budista perderia completamente a razao de ser. Deixa pra la: nao adianta lutar contra a natureza do ser.
Para quem tem crianças, a ultima semana de férias (no caso, esta) meio que pega todo mundo de 'calças curtas'. O Camp de jour acabou e as aulas so começam semana que vem. É que as aulas do CEGEP começam uma semana antes e os monitores dos camps precisam se organisar (pelo menos foi essa a desculpa que me deram). Alors, me voici poigné avec les petits toute la semaine. Alias, eu e todo mundo. É muito engraçado! As maes aqui têm um grande sentimento de compaixao umas com as outras (pelo menos entre as que eu conheço funciona assim). Semana passada era a turma toda se ligando pra ver quem ficava com as crianças de quem que dia. Uma verdadeira 'net' telefonica. Valia um filme! Os dialogos basicos eram mais ou menos assim: Mae 1: 'E tu? vai trabalhar'; ' Mae 2: ' Como? Tenho ainda 1000 coisas pra organisar...' , M1: ' Eu tb... Ainda nao fiz a revisao nas roupas, nem organisei meu bureau... Mas amanha eu posso ficar com o teu pequeno'. M2: ' Beleza...Cai bem... Eu queria cortar o cabelo. Entao traz os teus pra ca na quarta.' , M1: ' Otimo, vou poder dar uma passada no bureau. Entao amanha eu passo ai pra pegar o teu.' , M2: 'D'accord.Vou te mandar uma lasanha.' E assim vai. Imaginem esse tipo de telefone com 4 maes diferentes em uma semana. O resultado: todo mundo consegue fazer tudo, as crias se divertem e ninguém se cansa. Isso é o que chamo de espirito de equipe, um verdadeiro 'sindicato das maes'. Como ja dizia meu pai 'a necessidade é a mae de todas as virtudes'. E aqui, a ajuda mutua é realmente super importante, ja que nao da pra chamar a Maria quando a gente quer.
Alias, esse é um assunto que eu queria tratar ja ha algum tempo. A absoluta falta das Marias por aqui. Se eu fosse uma das entrevistadoras do MICC la no Brasil, uma das minhas principais perguntas seria ' Em uma escala de zero a 10, sendo zero = absolutamente nenhuma e 10: total, qual é a importancia de uma empregada domestica na sua vida?' Se a critaura dissesse algo em torno de 5, uma portinhola se abriria em baixo da sua cadeira e ela cairia confortavelmente sentada num lindo sofa. Melhor ficar por ai. Claro que é so uma piada, mas como toda piada com um bom fundo de verdade. Na real, aqui ninguém tem faxineira empregada, nada disso. E olha que eu tenho amigas que moram aqui ha mais de dez anos e que tem grana sobrando. Sei la, nao é cultural. E nao tem grande disponibilidade tb. Existem firmas especializadas que limpam escritorios e mesmo casas de pessoas com dificuldades (geralmente idosos ou handicapés). Até algumas pessoas contratam pra limpeza dos vidros (1 vez por ano) ou um faxinao (idem), mas é raro. A vida normal aqui é: cada um limpa suas sujeiras....e cara alegre. Por absoluta e imensa sorte,mesmo no Brasil, raramente eu tinha alguém limpando minha casa. Quando isso acontecia geralmente era a minha Santa Mae que me emprestava a empregada dela quando a coisa la em casa tava muito séria e eu nao tinha nem previsao de tempo pra arrumar. Reconheço que me dava um enorme bem-estar no dia que eu chegava e casa e tudo estava arrumadinho, limpinho, dobradinho. É bom, é bom! É muuuiiitttooo bom! Mas nunca fui a mais fa das fas. Esse lance de alguém dobrando minhas roupas, mexendo nos meus bagunçados armarios, no meu fogao, arrumando a minha cama... nao faz muito o meu gênero. Além disso, nao sou la das mais neuroticas por limpeza, entao nao me estresso muito. Nunca, jamais de la vie, deixei de fazer alguma coisa divertida para ficar em casa limpando. Sempre penso que a sujeira pode esperar, ela nao é apressada e nao vai se mandar sozinha. Pode ser meio porquinho isso, mas azar. Prefiro investir um pouco mais de tempo em conservar as coisas limpas do que em faxinoes semainais. Além disso uma vez li um lance que justifica minha baguncinha de alguma forma: ' Uma casa tem que ser limpa o suficiente para ser considerada higiênica e suja o suficiente para ser considerada feliz'. Mais ou menos isso... Posso dizer que nossa casa é feliz...entenda como quiser! Mas pro mulherio que curte uma casa-brinco, a vida aqui nao é das mais faceis. Isso por que o trabalho de casa é aquilo que a gente chama em psicologia de 'trabalho vazio', ou seja, sem produto final, hoje tu acabou, amanha tu recomeça. Quando a galera é muito acostumada com as maids, dizem que da uma depressao quando chegam aqui. É por que aqui, fofa, a verdade é dura: a maid é tu. Uma vez uma pessoa me escreveu dizendo que seu marido estava louco para imigrar, mas que ela tinha duvidas ja que moravam numa cidade pequena e pacata (sem violência), estavam muito a vontade financeiramente e mais (e pelo jeito mais importante) ela tinha duas empregads e uma baba, sem as quais nao sabia bem como se virar. Normalmente eu nao diria nada (cada pessoa é uma criatura, ja dizia meu professor de epistemologia), mas como ela me pediu uma opiniao... fui obrigada a lhe aconselhar a ficar por la mesmo: nao se mexe em time que esta ganhando (ja que era isso que parecia do ponto de vista dela).
Mas a vida aqui nao é tao dificil assim se a gente segue algumas regrinhas basicas. A primeira, e mais importante é : coloque seu marido no batente. Aqui nao tem essa de maridinho vendo tv enquanto a patroa esquenta a barriga no fogao pra esfriar na pia. Sorry guys, no way! Entao, pra quem ainda nao veio uma dica: civilize o fofo com antecedência. Explique os beneficios comporvados cientificamente de, depois de um dia de trabalho se dedicar a tarefas sublimes como passar um aspirador, dobrar umas roupinhas, lavar uma louça, cortar uma cenoura. Verdadeira terapia gratis! E arrancar os matinhos do patio entao: momento propicio para praticar a meditaçao, estratégia anti-estresse hehehe. Segundo passo, coloque os pequenos no trabalho tb. Todo mundo tem que fazer sua parte. Aqui em casa cada um arruma seu quarto, guarda suas roupas, um passa o aspirador enquanto o outro, varre a garagem. É a vida! Se nao aprenderem agora, vao aprender quando? O efeito acho barbaro: crianças que aprendem ajudar na limpeza e organisaçao da casa, aprendem a cuidar melhor de tudo, dao mais valor, descobrem novas habilidades e acabam se divertindo tb. Em terceiro lugar, invista um tempo para descobrir os produtos de limpeza daqui. Vale a pena. Sem essa de paninhos e pinho sol do Brasil. No Québec...ja sabem. Eu demorei pra descobrir, mas graças as minhas amigonas semi-brasileiras e minhas queridas québécoises, as maravilhas do mundo moderno foram apresentadas pra mim. Detergente tao forte que é so espirrar ele na banheira que ela fica branquinha da silva (depois do primeiro uso a gente entende que vale a pena comprar as luvas amarelas); rolos de papel toalha bem baratinhos (nao é caro que nem no Brasil e aqui a gente nao usa os famosos 'paninhos'...blargh! depois tem que ficar lavando e pendurando paninhos...me poupe!); esponjas maxi resistentes; detergentes de louça com hidratante pra as maos; vassourinhas e escovinhas de todos os tipos... Nao da pra enumerar tudo. Depois do mercado de comésticos o que eu acho que fatura mais por aqui é o de artigos de limpeza. A variedade é infinita! Detergente para a cozinha e lavanderia, para a cozinha e o banheiro, um que dissolve os residuos de sabao, um que tira a gordura dos azulejos, um que tira os acaros do sofa e dos bichinhos de pelucia (nao esqueçam que sao quase cinco meses sem poder abrir as janelas por mais de dois minutos por dia...e olhe la). Enfim..na falta de tu vai tu mesmo. Ja que tem que fazer, que seja o menos arduo possivel! Mas leva um tempo pra descobrir, pra reconhecer, pra saber onde compra, essas coisas. Depois so vai. Com essas três diquinhas, a vida diaria fica tao facil que a gente até esquece que um dia ja chegou em casa e uma fadinha tinha passado, e tudo estava limpo como que por milagre.
Entao é isso. Essa semana tô eu mais do que nunca encarnando a Maria. A Maria enlouquecida eu diria, sem tempo nem pra se coçar. Compra e organisaçao de materias escolares, remanejamento das roupas (o verao se foi...êta veraozinho sem-vergonha esse ano), estoque de materiais de limpeza (meus fiéis aliados), amiguinhos das crias aqui, eles tb visitando os outros por ai (dit autrement: maman-choffeur), estoque de comidas nao pereciveis e congelados para emergências, hora no dentista, exames médicos, receita pro oculos novo e por ai vai. Tô tentando fazer de tudo pra ver se começo o ano completamente em dia e assim evito as correrias de ultima hora. Mas sei que daqui ha dois meses vou precisar de um tempo pra colocar tudo em
dia outra vez. Enfim, é isso: tudo tem seu preço.

Friday, August 10, 2007

Valores e desafios

Ontem a noite tentei escrever aqui...nao saiu nada! É engraçado isso, eu nao escrevo quando quero mas quando posso. E nao é uma questao de disponibilidade de tempo (até é...), mas de disponibilidade de espirito. As vezes até tô a fim de escrever, mas nao sai nada. Nao adianta pressionar. Mas ai hoje de manha, veio. Acho que eu precisava colocar o que eu estou sentindo primeiro em palavras orais para depois transcrever. Ontem peguei o Rudi pra conversar. Acho que ele pensou que ia sair um DR (= discutir a relaçao), mas nada disso. Eu tava precisando falar de mim mesma, e tudo que eu precisava era de alguém pra ouvir. Nesses casos, ninguém é melhor que le. Ele fica ouvindo com uma cara que tu nao sabe se ele ta escutando, e ontem o coitado ainda tava morrendo de sono. De vez enquando eu perguntava: Ta me ouvindo? E ele demorava um pouco pra responder (talvez estivesse meio que dormindo), dizia que sim, comentava alguma coisa e esperava que eu continuasse despejando. Nao é facil ter uma mulher-mala! Mas quando ele abre a boca, o tiro é certeiro. Ontem a conclusao magica dele foi: ' Tu tem que entalhar, My. Como uma escultura. Com o teu coraçao. Faz como tu sabe fazer, com o teu coraçao. É assim que as coisas que tu faz dao certo. Tu nao pode esquecer que pra ti, tudo tem que ter coraçao.' (Vocês vao entender se tiverem saco de ler esse post até o fim).
Bom, começando do começo saimos 10 dias de férias. Que maravilha! Praias, muitas praias. Praias sem milho cozido, caipirinha, peixinho frito. Mas ainda assim, a estrela maior, o mar, estava la. Que falta que eu estava sentindo do barulho do mar, do cheiro do mar, da maresia! Ele, claro, se lavou de surfar. O Pedro aprendeu a surfar de prancha mesmo (de morey ele ja ia), fica em pé e tudo. Filho de peixe. Eu li dois livros me torrando no sol, coisa que mais amo. A Giu se lavou de correr e brincar e ja anda se ensaiando no surfe também. Ficamos em gîtes (B&B) lindos, acampamos, vimos coisas maravilhosas, nos divertimos. Essa é a forma que mais gostamos de gastar a grana (quando se tem alguma, logico), viajando. Passando tempo juntos, vivendo, curtindo. Nao sei por que, mas sempre tive essa coisa com viagens. Talvez tenha sido uma coisa de familia mesmo. Minha mae é a piada da casa por que quando ela tem que pegar um aviao pra qualquer canto. Ela chega no aeroporto com 5 horas de antecedência. Morre de medo de perder a oportunidade de viajar. Além disso, minhas melhores lembranças da infancia foram durante nossas viagens em familia, um tempo onde ficavamos todos juntos. Era engraçado que meu pai de repente tinha uns 5 minutos e queria voltar pra casa correndo. Mas mesmo assim, ficou o gosto de aprender com aquilo que é mais diferente de mim. Viajar nos leva a conhecer os outros, o mundo, mas sobretudo a gente mesmo. Ta, tudo bem...Pode me dizer que a gente pode viajar dentro de casa mesmo, que o importante é mudar a rotina... Li isso em um monte de livros de auto-ajuda. mas pra mim, essa historia de 'viajar em casa' é consolo pra comodismo e falta de grana. Claro, cada um tem seus gostos e prioridades, nao tenho nada a ver com isso. Pode até dar no mesmo pra algumas pessoas, nao pra nos.
A gente começa a viajar planejando, desenhando, imaginando como vai ser. Ai arrumar tudo, malas, brinquedos, seleconar os livros.... tudo é divertido! Pegar a estrada (de carro, onibus, trem ou aviao)...tesao! Sair do 'mundo real' (é real?). Conhecer gente nova, falar outra lingua, comer diferente, beber diferente...aaaaaiiii...eu amo! Ai tem a volta. Eu também adoro voltar, e meio como o meu pai, quando chega o dia eu tenho uns siricuticos. Preciso ir. Da uma ansiedade de voltar, colocar na parede os quadros novos, olhar os e-mails (dessa vez passei 15 dias sem tocar num computador - recorde!), rever as pessoas, arrumar a casa, preparar a vida. Adoro também! Diferente do meu pai, nunca quero voltar antes do fim. So termina quando acaba. Mas quando volto, ai que bom! Dessa vez, na volta fizemos 17 horas one shot. Nao paramos nem pra comer (da-lhe drive-thru). A coisa boa é que as crias sao hiper-acostumadas (ja que sempre tiveram eses pais débeis) e conhecem plano 'orsis on the road': 1) ninguém pode reclamar, 2) mamae e papai também estao de férias, portando: nos poupem!; 3) cada um cuida das suas coisas; 4) paramos pra fazer pipi quando a familia tiver 3 votos a favor, salvo em necesidade extrema; 5) mamae descasca laranjas, maças e tudo que é fruta sem reclamar, mas so depois que entrar na autoroute (se nao eles ja querem sair de casa comendo e em duas hors de viagem o estoque acaba); 6) cada um se vira pra passar o tempo como quiser dentro do carro: ler, desenhar, jogar, olhar a paisagem, ouvir musica, conversar tudo é permitido (so nao vale jogar travesseiros, gritar e enlouquecer) e...7) depois da terceira vez que perguntar ' a gente ja ta quase chegando?' mamae e papai nao sao mais obrigados a responder ( e nao responderao).
Mais ou menos obedecendo essas regrinhas eles vao super na boa. Aprenderam a gostar do lance. Quando chegamos em casa eles ja perguntam pra onde vamos da proxima vez. E o pior é que eu ja volto pensando nisso...hehehe
Valores sao valores. melhor cada um descobrir os seus. Melhor quando a gente compartilha com o marido esses valores...bem melhor! No fundo acho a gente muito louco. Nossos eletrodomésticos foram todos doados (menos o fogao ja que na época nao tinha ninguém se desfazendo do seu). A decoraçao da casa vai lentamente (queremos mesmo é decorar com as coisas que a gente traz das nossas trips). Nao tenho roupas de marcas nem jantamos em grandes restaurantes. Nao damos muita bola pra isso. De vez em quando é bom, mas nao é algo que nos estresse. Nosso negocio é de vez em quando (em bom gauchês): deitar o cabelo!
Pois é, mas voltei. Voltei e meu 'terceiro filho' me esperava ansioso. Antes de sair expliquei pra ele que eu precisava dar um tempo, relaxar, pra poder cuidar melhor dele na volta. Valeu a pena. Meu projeto (lindinho!) tava ali, esperando mamae pra continuar a crescer. Depois de um ano trabalhando nos projetos do meu diretor (muito legais, por sinal), chegou o momento de começar a construir a minha criaçao. Foi pra isso que eu vim aqui. Foi isso que impulsionou toda a nossa mudança de vida. Agora estamos aqui: eu e ele, sozinhos, um frente pro outro...é nois na fita, mano!
É estranho, mas so quem trabalha com ciência (e gosta, bem etendido) pode entender o que é a confecçao de um projeto pessoal. Um projeto é, em algum sentido, uma forma de obra de arte. Nunca fui artista, nunca tive talento pra nada de arte. Mas imagino que deva ser mais ou menos o mesmo tipo de sentimento que une um artista e um cientista. Pelo menos quando o cientista pensa um pouco como o artista. Pra começar é aquela tela branca. Aos poucos o computador vai fcando cheio de arquivos com pedaços da 'obra'. Ao lado do computador, pilhas e pilhas de papéis com os outros pedaços. Tudo é uma questao de paciência de ler, achar o que tem ver (nao é mais ou menos isso que o pintor faz com as suas tintas?). Ler mais, recortar, colar, reescrever, linkar, pensar. Amar e odiar. Tem noites que eu fecho o computador com a sensaçao de dever cumprido, que beleza. No dia seguinte, decepçao. Nao era mais nada disso. No livo que li antes de dormir achei a 'chave', e ...bom...melhor mudar um pouco. E reescreve, refaz, repensa. Oh, Cristo! Tem horas que brigo com ele, digo que é um 'feio'. fecho tudo e me emburro. Shit! Um tempo passa e eu faço as pazes, tenho outras idéias, começo a achar o lindo, lindo de novo. Exatamente como o artista, o cientista também tem seus idolos inspiradores. Um dos meus se chama Shaad Maruna e trabalha atualmente na Irlanda. Ele é a minha principal motivaçao pra falar e escrever em bom inglês. Quando leio o que ele escreve, percebo uma forma de fazer ciência apaixonada e apaixonante, uma esperança la no fundo (nem que seja bem no fundo) de ajudar a mudar um pouquinho o mundo, de melhorar alguma coisinha. Ele me motiva. E ele trabalha bem. No tipo de metodologia de pesquisa que eu uso, nunca vi ninguém como ele. Ele consegue o que eu mais quero: que o meu trabalho final possa, sempre no mais cientifico dos rigores cientificos, falar de sentimento e de paixao. Paixao pelo que a gente ama, pelo projeto que a gente acredita, mesmo! So que querer isso também é colocar a barra mais alta ainda pra mim. Eu bem que podia querer fazer um doutorado basico, ter meu phd atras do nome, achar um emprego legal e bye bye so long. Isso ja é muito, e nao é facil. Mas nao consigo, nao adianta. No Brasil fui convidada pra fazer o doutorado em uma universidade super legal, com um dretor muito competente. Trabalhei um ano com ele, me puxei, produzi, mas eu nao tava feliz. Eu nao podia ter o MEU projeto. Adoro pesquisa de qualquer jeito e acho legal trabalhar com os interesses dos diretores, a gente aprende horrores. Mas mesmo nao tendo um projeto especifico em mente naquele momento, eu sabia que o MEU projeto nao ia nascer ali, nao naquele contexto. Parei tudo, descobri meu diretor aqui e me mandei. Agora sim. Agora ele vem. Pedacinho a pedacinho. Aqui nunca mudamos meu projeto por completo, ele so foi sendo aprimorado, mais gente foi se implicando, se interessando, gostando dele também. Uma de minhas colegas de doutorado me disse que nunca viu ninguém tao motivada por um projeto de doutorado. Nem eu...hehehe Mas é que so agora, eu amadureci o suficiente pra escrever sobre o que eu relamente quero saber, sobre o conhecimento que eu acho, SIM, que pode mudar um pedacinho do mundo. Nao tem ninguém atras de mim me empurrando pra direçoes que eu nao quero ir. Ao contrario. Meu diretor é tao fantastico que nunca me da as soluçoes prontas. Ele faz as criticas, me olha com uma cara de 'pensa ai, minha filha' e me deixa sozinha. Ai eu me arranco os cabelos, falo com um e com outro, leio um e outro, escrevo uma soluçao e vou ver ele. Ele que ja é macaco véio (no bom sentido), me olha com aquela cara de quem ja sabia o que eu ia achar e me pergunta sobre o percursso que eu fiz. Ele me faz compreender que o trajeto pra achar uma resposta pode nos dar muitas outras respostas, idéias, soluçoes. Interessante é que ele é tao simples que, muitas vezes, fica impresionado com o que eu achei, reconhece que nao tinha pensado nisso ...aiaiai nesses momentos o ego da véia aqui passeia la na lua...hehehe Um dia ele escreveu uma carta de recomendaçao pra mim e disse que tinha certeza que em breve eu seria uma 'colega muito querida e reconhecida no nosso meio de pesquisa'. Fiquei uma noite sem dormir!hehehe
Como toda paixao, a paixao pelo trabalho faz a gente sofrer bastante. Nao basta estar bom, tem que ser novo, fantastico, radiante. Pas evident! Reconheço que eu sofro, me ararnco os poucos cabelos que me restam. Mas quando da certo, ou quando vem um reconhecimento qualquer (grande ou pequeno), é bom demais. O dificil é encontrar motivaçao em todas as fases do trabalho, esse é o desafio. Pra mim é isso que faz a diferença. Especialmente nessa fase onde tudo começa a se definir. O maior desafio do momento pra mim é sentar a bunda quieta e ficar sozinha horas a fio. Nem MSN, nem olhadinha nos e-mails, nem telefone (esse fica desligado), e nem pensar na faxina que a casa ta precisando. Eu e ele, ele e eu. Nos conhecendo. O projeto- obra-de-arte. Isso que ele é pra mim. Mais do que nunca eu compreendo aquela velha frase que diz que as boas realizaçoes sao fruto de 1% de inspiraçao e 99% de traspiraçao. Falando nisso, preciso buscar outro copo d'agua.