Saturday, December 29, 2007

Reflexoes natalinas

Eu bem que queria ter escrito no Natal...nao deu. Estamos numa verdadeira via-sacra de Natal...poramorde Deus! Mas nao tem muito a ver com compras, nao. Ja que nao fugimos pro Brasil, aproveitamos pra experimentar as atividades por aqui e no frio mesmo. Fazer o quê? Escolhas sao escolhas e cabrito bom nao berra...hihihi Na real, tô brincando por que, como eu ja disse, sou abslutamente contra toda esse alarmismo que algumas pessoas fazem do frio. Nao entendo muito. Talvez nao se agasalhem bem...sei la. Ta, nao vou dizer que tu morras de vontade de sair de casa, olhando o dia ta meio cinza, a nevinha e, sobretudo, a noite que cai as 16h. No entanto, a minha estratégia pra encarar as situaçoes novas é so uma: enfrentar. Tem que sair. Tem que investir em roupas (e equipamentos) adequados e sa-ir! Esses 'equipamentos' nao sao luxo, de jeito nenhum aqui. Pro meu gosto, eles estao mais pro Prozac das neves. Ano passado eu e o Rudi nao tinhamos nem calça de inverno, saimos uma vez pra glissade e quase morremos congelados. Aprendemos. Esse ano me equipei e digo: foi a melhor coisa que eu fiz. Perdemos todo o medo de sair na neve e estamos nos aventurando, lentamente, em todos os esportes de inverno: patins, glisade, ski de fond, ski alpin. Ta certo que a minha desenvoltura ainda é bem parecida com a de uma elefanta na loja de cristais, mas nem tô. Meu objetivo é so sair de casa, me divertir com meus filhos, respirar ar puro, me mexer e... de preferência...gastar
umas caloriazinhas. Qual é o problema de ganhar uns roxinhos no traseiro de bonus?
Pois é, mas voltando ao Natal. Aqui em casa foi tudo meio sui generis. Tinhamos alguns convites de amigos aqui e ali, mas resolvemos que as crias é que iam decidir. Foi engraçado por que pensamos que eles iam se disputar, cada um querendo uma coisa...mas nao. Quando demos as opçoes e perguntamos onde eles queriam ir, eles responderam em coro: queremos ficar na nossa casa. Period! Achamos meio estranho, ja que eles também gostam de estar com os amigos, mas eles responderam que nos nunca passamos o Natal em casa, o que é verdade. Quando estavamos em Porto iamos pra mae, se estavamos em Sampa, pra sogra, e ano passado fomos pra casa de alguém, talvez por medo de encarar o primeiro Natal sem nenhuma familia. Que besteira! Foi preciso nossos filhos nos acordarem para o fato de que, aqui, a nossa familia somos nos e o importante é que nos estejamos juntos. Esse é o verdadeiro espirito de Natal pra mim: lembrar de quem a gente mais ama e ficar muito junto.
Mas as novidades nao acabaram por ai. Perguntamos o que eles iam querer comer, e eu ja calculando onde encomendar o pedido, ja que eu NUNCA pensei em passar o dia todo olhando pra cara de um peru no forno. Esquece! A unica vez que acompanhei alguém fazendo isso, me deprimi. La pelas tantas eu ja tava pensando na familia do peru, nas matanças dos animais, nas energias que isso pode acumular e acabei a noite quase jurando que ano ano seguinte eu viraria vegetariana (so nao virei por causa da picanha sangrenta e gordinha que meu vô me ensinou a adorar...sacanagem...hihihi). Além de tudo, nao sou nada talentosa pra cozinha e faço questao de nao ser. Como eu digo por Rudi, eu ja aprendo muitas coisas, tem algumas que eu simplesmente nao quero aprender. Sai de mim. Até curto cozinhar quando tô afim...mas nao me força. E nao gosto de datas marcadas pra fazer coisas, tipo 'hoje é dia de cozinhar para a familia com sorriso no rosto'...nao consigo. Bom, mas tudo isso pra dizer que, outra vez as crias estavam de pleno acordo...parecia até que ja tinham se combinado. Declararam em coro que queriam comer ...sushi. Nada mais, nada a menos. Putz! 33 anos comedo peru ou porco no baita calorao, pra chegar na neve e comer...sushi. Ta certo. Entao nossa ceia foi sushi, em casa, de pijama, do lado da nossa arvore cheirosissima...entre nos. Tudibom! Sem nenhuma duvida esse foi o melhor Natal da minha vida. Gosto de estar com a familia. Adoro. Mas estar com a minha familiazinha é a melhor coisa do mundo. Sao as pessoas que eu amo acima de tudo, aqueles sobre os quais eu me sinto responsavel, meu porto seguro, como eu disse na dedicatoria da minha tese de mestrado.
A coisa mais dificil do Natal é mesmo comprar os presentes. Ainda mais com a familia longe e que manda grana pras crias comprarem o que quiserem. Eles adoram, mas quem gasta sola de sapato somos nos...Ainda bem que esse ano me depechei e comprei a maioria das coisas antes da loucura furiosa. Alias, as compras também sao sui generis por aqui. Eles vao, escolhem, compram, nos guardamos e so abrimos na noite de Natal. Nunca consegui contar historia de papai noel pra ninguém. Talvez por que eu nunca tenha acreditado (minha mae também nao me contava), nunca consegui transmitir essa ....tradiçao. Eu acredito em Cristo, o cara que nasceu pobrezinho e que nos ensinou (ou pelo menos tentou) que a gente teria que amar o nosso semelhante, de preferência nao sacanea-lo, nao ferrar sua paciência, respeitar seu espaço....amar. Quer seja branco, preto, amarelo, use véu, turbante, fume cachimbo ou pot...a gente teria que respeitar e perdoar e tentar amar. Negocio de velhinho gordo, em cima de umas renas, carregando presentes pelo céu, nunca fez a minha cabeça.
Lembro que quando eu era criança, nao entendia como os outros podiam acreditar nisso. Um velhinho gordo, com uma pacote enorme de presentes, puxado por umas pobres renas...puta sacanagem! Obviamente eu e meu irmao eramos o terror dos amigos dos meus pai, que pediam poramordavaca pra gente nao contar pros filhos deles que papai noel é uma baquice. A gente bem que tentava, mas acho que acabamos por desfazer algumas fantasias infantis ao longo do caminho. Nossos filhos também foram (e ainda) o terror dos nossos amigos e muitas vezes tivemos que pedir que eles mudasse de assunto quando algum amiguinho dissesse acreditar em papai noel, coelhindo da Pascoa, etc. Nada contra os filminhos tao lindos que eles fazem pro Natal, como o Expresso Polar, por exemplo. A gente vê varias vezes e adora , mas é o que é...fa-ta-si-a...como Simpsons, como ET, como tantos outros. Meus filhos acreditam em pais que se matam de trabalhar o ano todo para poder dar tudo que eles precisam para viver bem, ter acesso a cultura, esporte e diversao. E brinquedos, obvio, por que eu acredito que as melhores fantasias sao aquelas que a gente cria na cabeça da gente, quando estamos sozinhos (ou com amiguinhos) e lemos um livro, inventamos uma historia pras Barbies ou pros bonecos e avioes. Isso pra mim é que é fantasia rica, que precisa ser incentivada. Isso é verdade. Historias prontas, fantasias fabricadas...pra mim nao passam de mentiras. Como eu nao gosto que mintam pra mim, nao minto pros outros. Fim de papo.
Entao esse é meu espirito natalino. Acho que o tempo de Natal serve, acima de tudo, pra gente pensar no quanto nos isolamos e olhamos pro nosso proprio umbigo durante o ano. O quanto ficamos fechadinhos na nossa historinha e, as vezes, pequenos problemas tornam-se enormes, e grandes problemas, incomensuraveis. Quando eu trabalhava pra tentar ajudar as pessoas a sairem de suas depressoes, lembro que uma das estratégias que eu mais gostava era de tentar fazer a criatura olhar além do seu umbigo, quando era o caso, logico. Geralmente quando a gente se da conta do que passa do lado, na rua de cima, no outro bairro, na favela, no hospital e até no cemitério, a gente percebe que tem muita coisa pra fazer, muita gente pra tentar ajudar. A gente se da conta que teria que sair um pouco da casca, ver mais longe, viver mais. Talvez essa seja minha mensagem de Natal, se é que podemos considerar isso uma mensagem. So que hoje eu queria colocar também uma mensagem de um cara bem mais talentoso que eu. Minha mae me deu seu livro quando eu casei, e essa ai é a parte que eu mais gosto. Alias, esse ano nas férias de verao, eu achei em inglês a mesma passagem em uma espécie de paneau oriental para ser colocada na parede. Colocamos na sala e agora leio quase todo o dia. Esse texto exprime exatamente o que eu penso do amor, e como Natal é amor, olha ai e Feliz Natal en retard!

O profeta (Khalil Gibran)

Amai-vos um ao outro, mas nao façais do amor um grilhao:
Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Encheis a taça um do outro, mas nao bebais na mesma taça.
Dai de vosso pao um ao outro, mas nao comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vos estar sozinho,
Assim como as cordas da lira sao separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos coraçoes, mas nao confieis a guarda um do outro.
Pois somente a mao da vida pode conter nossos coraçoes.
E vivei juntos, mas nao vos aconchegueis em demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
E o carvalho e o cipreste nao crescem a sombra um do outro.

5 Comments:

Blogger Flavielle Martins said...

Lindo esse post, My!

Feliz ano novo e que os desejos dos seus corações sejam realizados!
Ah, e muita saúde também, né?

Abraços

5:54 PM  
Blogger Rod Mergulhão said...

Cara Mylène (perdoe-me o “cara”, mesmo q ñ tenhamos intimidade),

sou Rodrigo Mergulhão, 20 anos, graduando em Letras na uni federal do Amapá, extremo norte du Brésil, adorador d línguas, especialmente le français, l’anglais et l’espéranto . Achei seu blog dpois d muito garimpar na net histórias d brazucas malucos q têm (ou tiveram ou já vivem) o mesmo sonho q eu: “teletransporte” definitivo ao Canadá (rsrs!).

Mesmo, q suas linhas ñ sejam, como vc já escreveu, cartilha p/ quem quer saber + do tal processo, leio suas letras há 5 ou 6 dias – uma coisa q gosto muito: além d tentar ser o melhor francófono q conheço, acho vital ler as entrelinhas d pessoas-cabeça como vc! Portanto, parabéns por suas páginas na net! Confesso q nunca tinha ouvido falar em Laval; minhas intenções eram apenas Sherbrooke ou Montréal, mas você me apresentou Laval d forma apaixonante.

E agora gostaria muito d perguntar algo meio ou um pouquinho anormal (calma: nada como “Est-ce que la neige est vraiment très magnifique ?” ou “Et les salles des bains, sont-elles toutes bizarres ?” Non, ça c’est pas important... pas encore... rsrs!). Como sou ainda estudante disso por aqui, gostaria d saber qual é a metodologia d suas aulas d français aos imigrantes aí (como tem sido ou como foi). Seu blog é, FELIZmente, muito grande; então, minha leitura ainda ñ passou d “Sunday, October 08, 2006”, ao q você fala do Dia de Ação de Graças, e resolvi perguntar logo, ansioso, como todo pesquisador d metodologias d français.

Eu já li em 2 ou 3 posts seus algo como suas aulas serem parcialmente gramaticais, parcialmente com aplicações em textos úteis... do nosso “bien” com /ã/, que seus filhos falam biEn... e o “je veux” quebécois que é aberto... e gostaria d saber se vc segue algum livro-método, qual, ou se a maior parte d seus estudos são apenas gramaticais ou d frases já feitas, tipo clichês vagabundos p/ quando se está num bar, ou dans un restaurant, à la gare, sei lá...

Se vc ñ quiser ou ñ puder responder, ça va – eu continuarei lendo vc após “Sunday, October 08, 2006”, claro (gosto muito, muito do seu blog, e ñ digo isso agora só p/ puxar seu saco ou fazer frescura ou média, digo porque é verdade), talvez vc deva ter postado algo sobre isso, ñ? Mas, d qualquer forma, valeu! E perdão por ter escrito muito!

Como vc disse, receber muita energia positiva nunca é dmais, então te mando mais votos de tudo de bom por aí!

Bonne année!
Mergulhão (rodrigomergulhao@hotmail.com)

11:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

Mylène, adorei a mensagem de Natal!
Cheguei em Montréal há 3 meses e neste meu primeiro Natal também fui pra casa de alguém (rsrs).
Feliz Ano Novo! Muita saúde!

8:15 PM  
Anonymous Anonymous said...

Feliz Ano Novo!!!!!!!!! concordo contigo o melhor lugar de se passar o Natal e tantas outras datas, e a nossa casa com nossa flia, seja ela grande ou pequena. Pois e nela q tiramos nossas mascaras do dia a dia, eq nos aceitam como nos somos. E as reflexoes sao muito necessarias pois elas nos ajudam a nos melhorar.Abraços!!!!!!!

10:02 AM  
Anonymous Anonymous said...

Feliz ano novo para vcs!
como sempre um ótimo post, me fez lembrar de um ditado...
" mares calmos não forma bons marinheiros "
fiquem em paz e quam sabe neste ano nossos filhos se conheçam... acho que vão se dar super bem.
um abc,
Camila

2:39 PM  

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