Friday, May 19, 2006

Metro

Faz tempo que quero escrever sobre o metro, mas vai ficando pra depois. Vou aproveitar que estou MUITO FELIZ e mandar bala neste assunto. Pois bem, desde que me entendo por gente a minha relação com metros é de amor e temor. O primeiro que visitei na vida foi o de Londres. Lembro que dava uma sensação de claustrofobia, mas eu adorava aqueles mapas simples e coloridos. Quando voltei a Europa, na lua-de-mel, comprei uma camiseta, que tenho até hoje, com o desenho das linhas do metro "Underground". A única cidade que morei que tem metro é Sampa, mas lá quase não andava por que sempre namorei o Rudi e me encostava nas caronas dele. Só quando íamos comer sushi na Liberdade, aí iamos de metro, já que estacionar lá é meio difícil. Agora ando de metro pra caramba e continuo curtindo e tendo medo. Pode parecer neurótico, mas não gosto dessa história de canadenses no Afeganistão. De vez em quando, lembro dos atentados em metro e dá um certo medo. Aí fico olhando pra cara das pessoas, brincando de "desvendar supostos homens-bomba", mas logo desisto por que tem tanta gente com a cara parecida com aquelas fotos de homens-bomba que aparecem nos jornais, que não vale a pena encanar. Até por que, pego o horário de pico nas estações que "bombam no rush": Berri-UQAM e Henri Bourassa. Ou seja, é fé em Deus e pé na tábua. Mas por outro lado, me divirto muitíssimo no metro e em suas estações. Bom, psicóloga que sou, não nego que adoro observar os outros, especialmente quando não estão percebendo... A variedade de tipos humanos aqui é algo impressionante. As pessoas caminham rápido, sempre! Uma das primeiras regras que aprendemos e ensinamos para as crianças foi: na escada rolante, caso queira ficar parado e tranquilo, fique na direita. Claro que tem uns boca-abertas que não percebem isso e é um saco quando estás prestes a perder o teu onibus. Mas quando tenho tempo, fico na direita e vou curtindo os lustres, as luzes, as cores ou ouvindo as músicas. Ah, sim! Isso mereceria um tópico a parte! As músicas no metro são o máximo, de lindas ou de bizarras. Aqui na HB (Hery Bourassa), já conhecemos quase todos os "artistas". Uma vez li no orkut que, em Toronto, tem uma audição para serem selecionados os músicos que terão permissão para cantar no metro. Não sei se é sério, mas achei muito engraçado! Aqui, organizam locais e horários. Foi a Natasha que me chamou atenção para isso. Em alguns locais das estações tem uma placa com o desenho de uma harpa e os horários em que é permitido ficar ali. Achei o "cúmulo"da normatização, mas funciona bem. Aqui na HB temos alguns personagens que já estão se tornando queridos e as crias logo que ouvem pedem moedas e vão correndo entregar, ao que eles sorriem e agradecem, quando estão com a boca desocupada. Tem um que fica bem na entrada da HB no terminus Laval. É um homem de meia idade que sempre usa um abrigo mostarda e nunca canta! Parece brincadeira, mas é real. No nosso primeiro mes aqui, nunca ouvimos a voz ou o som dele. Fica sempre conversando com alguém. Ele tem um tipo de "cenário". Um violão atravessado no peito, um cachorrinho de pelúcia que fica em cima da caixa do violão e que segura uma placa"Regarde le chien". Como nunca demos nada pra ele, não faço a menor idéia do que esse bichinho faz. Na época da Páscoa ele juntou a seu local alguns coelhinhos de pelúcia, que aliás ainda estão por lá. Já faz algum tempo que ouço ele tocar e cantar bem alto, aquelas músicas tipo do seriado "Daniel Bonne". Lembram? Essa eu tirei do baú, hein? Acho que alguém deve ter dito pra ele: ou canta ou desocupa a moita. E aí ele teve que se puxar! Tem um homem negro que toca guitarra maravilhosamente bem. O som do cara é 10, dá vontade de sentar lá e ficar ouvindo o dia todo. Várias vezes caminhamos mais devagar para ouvi-lo. Esse é o preferido de todos nós e sempre damos uma graninha. Tem também uma guria que toca violino de vez em quando. Um dia eu vinha apressada, mas a música era tão linda que comecei a chorar caminhando mesmo. Tá que eu sou escandalosa, mas a música era de tocar na alma. Bom, e pra terminar, a mais engraçada. Uma senhora de meia idade que fica só em uns horários cachorros, tipo sexta e sabado a noite. Ela segura um violino e tem uma estante com umas partituras ou sei lá o que. Ela toca violino e canta "ópera". De uma forma terrível, ambas. Não entendo o que ela faz ali, mas deve dar grana se não ela não iria sempre. A galera deve ter pena, sei lá! O que eu sei é que, quando ela toca violino parece que o metro está em obras e alguém tá fazendo algum furo. E quando ela resolve cantar... Ai! Eu que já não gosto de ópera, na voz dela então... Ela é desafinada e quase não tem voz, então ficam aqueles gritinhos agudos e tremidos, meio que sem fim... nem folego a pobre tem. Sofro um pouco porque tenho a mania de sentir vergonha pelos outros. Isso é péssimo, mas não dá pra deixar de rir. Tadinha! Faço a maior força pra não rir enquanto passo por ela, já tem muita gente que ri. Mas, tche, é muito hilário! Eu até perguntei pro Rudi, que é entendido, se aquele seria um estilo musica, mas ele só respondeü: "Não, é podre mesmo!".Tadinha! Sei que já disse isso, mas é de dar muito dó. Dia desses, ao sair do metro, ouvimos uns gritos. Fiquei meio assustada, como boa brasileira escaldada, ainda mais que estávamos com as crianças. Quando chegamos na estação... era ela. Além dela, um pouco mais acima, tinha uma turma de adolescentes que gritavam pra ela, tipo imitando. Então ela gritava de lá e os ados de cá. O samba do crioulo doido, como diria minha mãe. Desatei a rir! O pior era que os adolescentes eram mais afinados que ela! Tadinha! Sei que parece humor negro, mas só vendo! É muito engraçado. Aí ela cansa e toca violino. Mas entre artistas nota 10 e os pouca pratica em geral, a gente se diverte demais. C'est amusant! Fora que em algumas estações mais badaladas, de vez enquando tem até orquestra. De verdade mesmo! Ou os caras que fazem espetáculos de bonecos para as crianças, esses sempre faturam com a gente. Os dois ficam fascinados e perdemos, um dois, tres, metros! Agora vão começar os festivais e suas atrações gratuitas OBA! Vai ter o Festival de Jazz, o Francopholies, o Juste pour Rire... Ninguém deixa de dar uma palhinha no metro! Há umas semanas atras resolvi pegar um onibus e percebi que, neste "complexo de tatu"a gente perde muita coisa linda do lado de fora. O problema é que, de onibus, sempre perco a parada porque fico boquiaberteando na janelinha. E assim vamos... Vamos curtindo a vida normal aqui, achando graça nas pequenas coisas e deixando tudo isso fazer parte da nossa história na parte de cima do mapa.

1 Comments:

Blogger Mylène, Rudi, Pedro e Giulia said...

Que bom, Junior e Maria. Ficamos felizes de ter vcs "por perto". Decidam com o coração, não tem outro jeito.Bonne chance e um grande abraço, My

9:46 PM  

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