Friday, July 06, 2007

Eu fui.

Quinta-feira. O dia todo trabalhando feito uma vaca jérsey. Meio-dia me mando pra Boucherie de Paris pra comprar um sanduba e voltar correndo pra telinha dos milagres. Encontrei minha amiga francesa. Papo vai, papo vem, perguntei se ela nao gostaria de dar uma passadinha no Festival International de Jazz. Expliquei que ano passado tava tao doida que, quando em dei conta, o festival ja tinha passado ha horas. Ela toda empolgada, falou que também nnca tinha ido e combinamos de ir pra la no fim da tarde. Adoro isso. Quer ir? Vamos. Fim. Nao tenho o menor saco para combinar muito os encontros. Sabe quando a gente convida alguém e sempre ouve as mesmas respostas do tipo: ah, que pena, tenho que cortar a unha do meu gato! Ou: acho que nao vai dar, preciso passar o aspirador; que pena minha casa ta uma bagunça, acabou o leite...Coisas assim! Tento uma vez, duas e fim. Sinto muito. No way! Entendo, mas nao compreendo. Em todo caso, concordo que eu sou um pouquinho mais empolgada que o normal. Mas desta vez, joguei as fichas no canto certo. A Madeline embarcou direto e às 18 h la estavamos nos nos mandando pro centre ville. Coisa engraçada a organizaçao dos québecois. Pois nao é que as criaturas conseguiram isolar a area de um festival ao ar livre. Pois é... Tu chega no cercadinho e tem que abrir a mochila pro segurança. E se tu ficar perdido, pior pra ti. Cada vez que sai e entra tem que mostrar de novo. Por uma lado é sacal, mas tem logica e a gente acaba se sentindo mais protegido. Entrando la, tu logo te da conta, a fauna de tipos humanos é impressionante. Tu vê absolutamente de tudo. Tudo mesmo. Logo, logo a gente percebe que a cidade esta entupida de turistas. Um monte de gente falando inglês e outras linguas menos populares. Agora, eu sei mesmo quando tem turistas é quando percebo um cara olhando pra mim. A primeira coisa que eu penso é que tem alguma coisa errada com meu cabelo, ou que a criatura me conhece, deve ser marido de uma ads gurias, sei la. Aqui a gente desacostuma. Québecois nao deve ser. Os québecois nao tem o habito de paquerar em publico ou sou eu nao faço o gênero deles. Sabe essas encaradas, aqueles assobios irritantes, aqueles 'ai, gos-to-sa', que certos brasileiros gostam de mandar a qualquer rabo-de-saia que passe na frente deles? Eu sei, eu sei, é nojento. Mas confesso, depois de um ano aqui, a gente até sente falta. Uma amiga minha conta que conheceu uma guria que ficou 10 anos aqui, casou e separou de um quebecois e voltou pro Brasil. Meio deprimida, ela tava subindo num ônibius, quando um cara na parada soltou um 'gostosa'. Ela nao aguentou e desceu do ônibus. Olhou pra ele, que ja tava todo assustado, e disse assim ' Ai moço, por favor, da pro senhor dizer de novo?'. Bom, sei que tinha la umas criaturas vindas sei la de onde, que ainda guardam o habito de olhar pro sexo oposto. Finalmente, melhor assim. Pelo menos fiquei sabendo que ainda nao me transformei completamente numa ameba disforme incolor e insipida. Caminha pra la, caminha pra ca, eu ja meio de saco cheio de ouvir jazz (grupos muito legais, é so que nao é exatamente meu tipo de musica preferido).... eu ouço uma espécie de batucada. Falei pra Mad: cara, tem um grupo latino aqui...eu tô ouvindo uma batucada, vem... E fui tentando identificar de onde vinha o lance. Sobe escada, desce escada, chegamos. Do lado do palco estava escrito ' Tropiques', tive certeza que tava no lugar certo. So que os caras nao cantanvam em nenhuma lingua latina, nem inglês ou alemao, ou chinês. Tentei identificar... Arabe! Um som simplesmente dez. Me botei a dançar que nem uma doida, nem ai pro fato de ter um lap-top na mochila. Segundo a Mad o tipo de usica se chama raï, e é a musica dançante arabe que tem como expoente maximo Rachid Taha, que eu ja tinha até ouvido falar por aqui e que acabou dando uma canjinha pra alegria da galera. Ela disse que na França esse tipo de musica é hiper popular. So sei que eu amei!!! AMEI!!! O grupo se chamava 'Les boukakes' (segundo a Mad, algo que pode ser traduzido cmo 'os ralés' em português, mas ela nao fala português, portanto a traduçao...vocês sabem quem fez...). Criaturas do céu, como eu dancei. A meteorologia anunciava tempestade...qual nada! A noite estava deliciosa, a musica maravilhosa e fora o fato de ter pago 5 dolares por um copo de cerveja que mais parecia copo de licor...o resto tava 10! Valeu demais! Eu bem que queria ter ido no Carlinhos Brown que abriu o festival, mas eu tava atrolhada de trabalho, aquele dia chovia e me contaram que estava tao atrolhado que na dava nem pra se mexer, quem dira dançar. Além disso, eu ja conheço musica brasileira. Arabe, nao. Nunca pensei que ia gostar. Uma supresa emocionante mesmo. Pra dizer a verdade me senti meio cidada-do-mundo. O efeito desta musica em mim foi muito louco. Parecia que eu sempre tinha escutado aquilo, que fazia parte de mim, nao queria mais que acabasse. Meu unico medo era que alguém viesse falar comigo em arabe. Eu tava la, tao a vontade, mas tao à vontade e meio bronzeada, que nao é de se entranhar se a galera pensasse que sou tunisiana. De novo: AMEI!!! Me dei conta que, as vezes, sendo brasileiros e vivendo aqui, a gente acaba se apegando muito aos eventos brasileiros pra sentir o gosto da terrinha, e no fim, pode estar perdendo de experimentar coisas novas, coisas maravilhosas, que a gente so vai descobrir se der uma chance pro acaso. Minha primeira experiência no FIJM nao poderia ter sido melhor! Nao sei se eu ja disse que adoro iso aqui ....

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Olá Mylene, tudo bem?
Nossa que legal que vc se divertiu com a música árabe.Meu marido é libanês e sempre escutamos dapka que é um ritmo bem animado e que se dança com um monte de gente formando uma roda.Gosto bastante de músicas arabes, não conheço o grupo tunisiano, mas vou tentar ouvir no youtube alguma coisa.
Gosto da maneira que vc escreve, sempre animada e comentando o dia a dia daí.
Não sou muito animada pra sair, entendo bem o que vc falou pois não saio todo o fim de semana, mas qdo saio, gosto de me programar certinho.Se tiver msn, me add, o meu é: andreaibrahim1@hotmail.com
bjs
Andrea

9:56 PM  
Blogger Soul love freedom said...

"ameba disforme incolor e insipida"
Essa foi a melhor!
Muito bom o post, deu até para imaginar a cena e a música!
Beijinhos,
Suzana (*

9:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

OLa Mylene td bem!?
Sera que vc poderia escrever algo sobre turismo no Quebec-Montreal, estou formando final do nao e em junho/2008, começarei o meu processo para imigrar, gostaria de obter maiores informaçoes sobre a area, em termos de salario, ofertas...
qualquer coisa me manda um email: ericsonbenicio@hotmail.com

11:18 AM  
Blogger Alexandre said...

Oiii Mylène...

Vim te agradecer "pessoalmente" (rs) pelas palavras de incentivo que você deixou no nosso blog. Amei! Sou sua "fã" desde o início do nosso processo, li ele todinho já...rsrsrs...Estamos sempre acompanhando, ler seus "contos" já me tirou de magoamentos mais de uma vez..hehe
Um grande beijo........
Dani

9:24 PM  
Blogger Papillon said...

Ei, moça!Imagina, eu baiana da gema(ou seja de Salvador) no FIJM encontro quem? Isso mesmo: Carlinhos Brown que abriu o festival(como vc falou). Mas, não tinha chuva não estava ótimo o tempo. Dei até entrevista pq as amigas chamaram a Tv falando que eu era da terra do cantor...imagina entrevista em rede nacional eem FR no FIJM: poderosaaaaaa kkkkkkk
É uma experiência ótima e espero que vc tenha repetido os FIJM.
Bjs.

6:21 PM  

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