Wednesday, November 14, 2007

Tuta's way of life

Mais um post da série "aniversarios da familia Buscapé". Aviso aos navegantes: esse é o ultimo...hehehe Minha criatividade, que ja nao é la tudo isso, ta terminando de vez. Mas nao dava pra deixar de escrever alguma coisa pro Tuta. Pra quem nao sabe, Tuta é o pseudônimo que o Pedro deu pro meu pai. É uma longa historia, mas basta dizer que o tal pseudônimo resolveu de uma vez por todas o problema do meu pai que nao queria de jeito nenhum ser chamado de "vô". Como o Pedro foi o seu primeiro neto, coube a ele inventar um jeito de chamar o "avô" sem falar "avô". Voilà que ele inventou "Tuta" e os netos seguintes apenas seguiram a tendência sem muito questionar.
Meu pai nunca foi de falar muito, interagir muito, participar muito. Ele tava sempre meio que no canto dele, deixando pra minha mae todas as incomodaçoes com os rebentos. Quando ele se metia, ja sabe: é por que fedeu.
Além disso, minha mae sempre tratou ele como um rei. Antes dele chegar em casa, no inicio da noite, ela se certificava que todos estavam banhados, jantados e, de prefêrencia, calmos e quietos. Lembro dela jogando perfume pela casa e aproveitando para salpicar umas gotas de "Alfazema" nos nossos pescoços. Barulho de chave na porta. Prepara-se a procissao. Deus o livre que eu e meus irmaos nao estivéssemos de pé esperando para beija-lo. Disciplina militar, ta pensando o quê? (E depois me chamam de "sargenta"...heheheeh).
Meu pai nunca me deu muitos discurssos, o que ele tinha que dizer era geralmente curto, e digamos, objetivo. Talvez por isso, o que ele me ensinou de mais precioso eu aprendi observando o jeito dele ser. Ele sempre detestou gente folgada, presunçosa, orgulhosa, preguiçosa. Ele sempre trabalhou muito forte e era reconhecido pela moral e pela ética inabalaveis. Ele podia ter ficado bem rico se seguisse a "massa", mas nao o fez. Nada, nenhum valor e nem ninguém tirava o meu pai do trilho ou abalava a sua moral e os seus valores. Essa foi a primeira liçao de vida que ele me deu: nao vale a pena jogar sujo.
Ele saia todo dia cedinho e todo cheiroso, exalando loçao pos-barba que até a criatura que tava esperando o ônibus na esquina devia sentir. Entrava no carro, sempre atrasado (por que tinha demorado três horas no banho e mais três lendo todo o jornal) e logo acendia um cigarro. Eu e meu irmao sentandos no carro, rezavamos baixinho para nao ter trânsito, se nao as irmas na escola (que nao perdoavam) nos dariam mais uma repreensao por atraso. Ai, ai...Deviamos ter umas vinte por mês (considerando que cada semana tem cinco dias, faz a conta). A gente explicava que a culpa era do meu pai, mas elas nao estavam nem ai e nem ele....hehhe A gente que se ferrava. Sendo assim, logo que eu pude, me desvencilhei do meu pai e de seus banhos de colônia e seguia sozinha de ônibus pra escola, no fedorzao do buzao mesmo. Esse pequeno incidente que poderia ser algum motivo de complexo pra mim, por acaso nao foi. Ao contrario, aprendi pra toda a vida que depender dos outros é (salvo rarissimas exceçoes) uma grande furada. Aprendi a resolver os meus lances sozinha mesmo, quando a coisa ta parecendo muito complicada. Quer chegar cedo? Pega o ônibus lotado das 7 da manha. Tudo bem. Nunca morri por causa disso e acabei provando pra mim mesma que eu podia me virar. Eu nunca vou poder explicar pra ele o quanto essa liçao foi valiosa e ainda é.
(Engraçado, a memoria olfativa é algo realmente impressionante. Até hoje, cigarro e loçao pos-barba tem cheiro de estresse pra mim.hehehe Mesmo assim, esses cheiros me lembram também a presença do meu pai o que faz com que às vezes, mesmo odiando cigarro, eu até aprecie um pouco o cheiro do tabaco queimando.)
Um belo dia, Tuta resolveu dizer que eu escrevia bem. Bingo. Eu tinha 10 anos e até hoje nao parei de escrever, pra tudo, por tudo e pra todos. Basta dizer que até meu trabalho atualmente é baseado absolutamente na escrita. Mas eu escrevo também pra relaxar ou seja acabou virando verdadeiramente um prazer pra mim. Nao sei nao, mas acho que muito disso foi por que ele (meu exemplo maximo de competência na vida) resolveu me dizer que eu fazia uma coisa muito bem.... e eu acreditei. hehehe Ainda hoje eu estava revisando a traduçao que uma aluna (francofona, obvio) tinha feito de um artigo meu que estava em inglês pro francês. Mudei daqui e dali antes de mandar pra revisora. La pelas tantas pensei " Teu peito, cucaratcha!!! Revisando o francês da guria!". Mas sei la... Palavras escritas acabaram virando paixao. Mesmo meu enorme prazer de ler eu devo ao Tuta. Ta certo que ele exagerava um pouco me dando um exemplar de Dom Quixote (de dois milhoes e meio de paginas) ou entao uma copia de "O homem que calculava" pra ler. Ninguém merece isso aos doze anos...hehehe Mas valeu. De tanto ver ele lendo, acabei imaginando que devia ter alguma coisa divertida nisso.
Meu pai é famoso por ter sempre alguma coisa pra ler nas maos. Uma vez, na escola, a turminha do Pedro (ele devia ter uns 6 aninhos) recebeu a visita de um jornalista que tinha ido falar de sua profissao. No fim, o Pedro foi falar pra professora que o seu avô também era jornalista. Na saida a professora veio me ver contando isso. Eu nao entendi nada e perguntei pro Pedro de onde ele tinha tirado essa idéia de que o Tuta é jornalista. Ele me disse " mas mamae, ele ta sempre lendo o jornal". Ou seja...
Também nao posso deixar de dizer que ele é uma figuraça escondida atras de uma carapaça séria. Ele tem um humor acido pior que o meu (é meu mestre, na real). Muitas das suas tiradas nao posso contar aqui graças a uma certa censura que eu mesma me coloco, mas algumas de suas maximas eu nao resisto. Abaixo algumas das frases (provérbios...hehehe, ditados) preferidos do meu pai e que me sao especialmente uteis na vida.
" Touro em pasto alheio é vaca". Essa é a minha predileta. Até traduçao pra francês e inglês eu ja fiz. Ja me foi muito util em todas as viagens e mesmo quando eu ia na casa de alguém durante a infância.
"Todo picareta é simpatico". Embora o contrario nao seja necessariamente verdade, ja tive a oportunidade de comprovar muitas vezes essa maxima.
"Nao te mete de pato à ganso". Querendo dizer, nao tenta ser ou aparentar mais do que tu és, sempre acaba em problema.
Como deu pra perceber, meu pai é verdadeiramente um exemplar de "gaucho" (eu diria quase "gaudério") e essa talvez seja a ligaçao mais forte que eu tenho com a terra onde eu nasci. Eu nao sou a admiradora mais ferrenha do povo dos pampas, embora nao tenha nada contra. Também nao acho que seja o mehor lugar do mundo (nao mesmo, voyons, se nao eu nao estaria aqui...). Mas por alguma razao, eu tenho um certo carinho por Porto Alegre (tudo bem, relaxem, nao sou nenhuma desertora) e acho que em boa parte foi o Tuta que me ensinou a apreciar a cidade. Da "minha terra", eu guardei a paixao pelo chimarrao e pelo pôr-do-sol do Guaiba (isso sim, incomparavel), algumas amigas-irmas imbativeis e insubstituiveis, a simpatia pelo frio (e pelo vinho, pelo fondue,...), a imagem dos pampas que eu admirava sempre quando dava aulas na Universidade de Bagé, e um enorme sentimento de fazer parte de alguma coisa que me é despertado cada vez que eu ouço uma certa musica tradicional. En passant, essa é a unica musica gauchesca (nem sei se é mesmo) que eu gosto, por isso, pai, ouve ela quando tu quiser te sentir perto de mim (e me manda um CD por favor).

Vento negro (Fogaça)

Onde a terra começar
Vento Negro gente eu sou
Onde a terra terminar
Vento negro eu sou

Quem me ouve vai contar
Quero luta, guerra não
Erguer bandeira sem matar
Vento Negro é furacão

Tua vida o tempo
A trilha o sol
Um vento forte se erguerá
Arrastando o que houver no chão
Vento negro, campo afora
Vai correr
Quem vai embora tem que saber
É viração

Dos montes, vales que venci
Do coração da mata virgem
Meu canto, eu sei, há de se ouvir
Em todo o meu país

Não creio em paz sem divisão
De tanto amor que eu espalhei
Em cada céu em cada chão
Minha alma lá deixei

Feliz aniversario, Tuta! Nos te amamos muito!

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Amei, amei , amei, alias, ja estava quase em depressao de tanto tempo sem um novo post
Teu pai parece com o meu. Do meu, o que mais aprendi tb foi a honestidade (e nunca ter dividas - la em casa, cartao de crédito é coisa de extra terrestre!)
Parabéns para o Tuta e milhoes de vezes obrigado a ele por ter te incentivado a escrever e, desta forma, nos dar tanto prazer
beijo grande a todos da familia Buscapé
leticia

12:09 PM  
Anonymous Anonymous said...

Que lindo teu SENTIR as coisas
e saber colocá-las no papel !!
Estou encantada..
Que posso dizer mais:

BOAS FESTAS
E, continuas com esta Luzzzzzz

Abraços, Linda !!
Que Encanto de Cantinho :)

1:54 AM  
Anonymous Anonymous said...

Olá ,

Gostei muito do blog de voces. Gostaria de aproveitar a oportunidade e manter contato com voces. Estou passando pelo processo do quebec e temos algo em comum , meu processo é familiar , sou eu , minha esposa e as duas criancas.
Para nós seria muito importante poder contar com a experiencia de voces, pois temos o desejo estamos no processo e aquele frio na barriga chamado medo, medo da mudança.
meu msn é flagoara@hotmail.com
se voces tiverem a oportunidade de entrar em contato conosco ficarei bastante grato.

Abs

Flávio

2:58 PM  

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