Friday, February 15, 2008

Ser como o rio

Entao aqui termina o percurso de "No Québec é diferente". O titulo que escolhi reflete, antes de mais nada, a nossa maior esperança: de que no Québec fosse realmente diferente. Depois de dois anos de trajetoria no hemisfério norte, acho que posso afirmar do fundo do coraçao que, sim... no Québec É MESMO diferente! É diferente e é melhor! Eu acho...beeemmm melhorrrr!!! As vezes penso que a cegonha deve ter errado meu trajeto, sei la. Acho que ela me desouvou no lugar errado. Chegando aqui, desde o inicio como este blog testemunha, me senti em casa. Engraçado! Como se tivesse achado meu canto, minha turma. E esse sentimento so cresce. Ontem eu estava conversando com meu diretor e uma colega perguntava quando eu ia visitar o "chez moi", se referindo obviamente, ao Brasil. Me deu um aperto no peito e eu so repetia " Mais là...chez moi c'est le Québec!". Estranho...eu falava do fundo do coraçao. Acho uma certa hipocrisia alguém sair do seu pais em busca de segurança e qualidade de vida e continuar chamando esse pais de "sua casa, seu lar". A minha casa é onde eu posso viver dignamente e ser feliz. Esse é meu conceito de lar. Mas isso é muito pessoal, e cada um vê de um jeito.
Mas enfim... eu continuo adorando isso aqui. Continuo agradecendo a Deus por tudo, tudo que estamos vivendo. As coisas estao sendo mmmuuiitttooo melhores do que a gente esperava. Eu diria mesmo mmmuuiiitto melhores do que eu, um dia, ousei pedir. Alors, merci Bon Dieu!Nostalgia do Brasil, nao sei se tenho. Na real acho que nao me dou muito o direito de ficar nessa de nostalgia (so vale a do Leite Moça)...heheh Pra frente é que se anda e vamo la.
Acho que, justamente por isso, nesse momento eu tenha decidido que esse blog ja deu mesmo o que tinha que dar. Acho que ele cumpriu a sua maior funçao que era de documentar passo a passo a nossa adaptaçao no novo pais, na nova Patria, na nova vida. Cumpriu. Fico imaginando como vai ser legal quando o Pedro e a Giu forem adultos, trilingues e lindoes (isso eles ja sao...hehe) e pegarem esses escritos para ler. Talvez eles fiquem conhecendo um pouco mais sobre a doida da mae que eles tem...talvez nao. De qualquer maneira, com certeza vao lembrar de momentos, ver fotos, etc.
Talvez eu nao tivesse escrito (quase) regularmente por dois anos se as pessoas queridas que nos acompanham nao tivessem deixado aqui seus comentarios. Cada um desses comentarios encorajadores, sobretudo, fazem parte da nossa vida agora. Cada um foi um presente que recebemos e que vamos guardar com muito carinho. Algumas dessas pessoas eu conheci pessoalmente, algumas sei que ainda vou conhecer. Mas nao todas. Nao sei porquê. Tem gente que me acha fresca. Sou mesmo. Aprendi depois de muita porrada, graças ao nascimento dos meus filhos, a guardar "um pouco" da minha privacidade. Além disso, nao sou consulado nem agente de imigraçao. Conheci quem eu fiquei afim, quem bateu. Sempre ouvi meu coraçao. Às vezes eu acertei, outras errei. Paciência. Ser fiel a seus sentimentos nao nos exclue da possibilidade de errar. É assim, mas no balanço final muito mais acertei que errei e voilà.
Entao aqui fica a marca desses dois anos, mas nao é um fim. Eu adoro pensar em termos de gestalt. É uma gestalt que se fecha, para que outras se abram. É um corte com um momento, com um ciclo. Sempre acreditei que a gente tem que (quando possivel) fechar as gestalts que a gente abre. E a gente também precisa ser como rio. Deixar fluir. Deixar rolar. A gestalt do blog esta sendo fechada e outras estao sendo abertas... como a faxina na casa. As vezes a gente tem que tocar algumas coisas fora para abrir lugar pro novo.
À cada um que torceu, que riu e chorou comigo...um grande merci. À quem quiser manter contato:mypsi2002@yahoo.com.

E termino com Manuel Bandeira:

Ser como o rio que deflui
Silencioso no meio da noite.
Nao temer as trevas da noite.
Se ha estrelas no céu, refeti-las.

E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens sao agua;
Refleti-las também sem magoa
Nas profundidades tranquilas.

Saturday, February 02, 2008

Homenagem publica

Tô eu aqui em pleno faxinao...quer dizer, em pausa do faxinao. É que eu tava la esfregando meus armarios das cozinha e ouvindo Nando Reis, quando me deu uma vontade danada de escrever essa mensagem pra uma das pessoas que eu amo mais no mundo: meu chum. É uma mensagem de reconhecimento e agradecimento...uma homenagem.
Quando resolvemos imigrar, eu tava fissurada nas historias de doutorado e foi ele quem fez os primeiros passos para o visto. Ele que pesquisou na internet, que imprimiu formularios, que botou mais pilha ainda. O caso é que nos nunca soubemos muito bem como seria o mercado de trabalho pra profissao dele por aqui. Aparentemente tinha muitas oportunidades, mas percebemos também (como de fato se comprovou chegando aqui), que era um mercado atolado em funçao dos milhares de cursos tipo DEP oferecidos por um monte de escolinhas de todo o tamanho. Assim, cogitamos que seria um mercado bastante saturado. Eu nao sabia muito como ele ia reagir e me lembro de uma noite, depois de uns dois copinhos de cerveja, numa mesa de bar, onde conversamos seriamente sobre o assunto. Eu nao queria ter surpresas chegando aqui. Eu nao queria que ele ficasse infeliz. Eu tava com medo. nao queria largar meu sonho, mas sobretudo nao queria largar ele e nao queria que ele fosse infeliz. Nao queria que ele suportasse a infelicidade so pra me seguir. Desse jeito eu nao queria. Se o preço pra me realizar fosse vê-lo triste, também nao valia a pena. Pois nessa noite ele me tranquilizou e depois deste momento nunca mais tivemos nem um segundo de duvida sobre o que estavamos fazendo.
Ele me lembrou que ha muito tempo nao tava satisfeito com o trabalho dele e que, ha alguns anos, sobretudo depois do nascimento das crianças, ele nao tava muito feliz. O trabalho artistico que ele fazia antes tinha sido em boa parte substitudo por samplers e nao sei mais o que quê, e o metier tinha perdido bastante da graça. Além disso, falou do quanto ele ficava incomodado em nao ter horario fixo de trabalho. Quando a gente nao tem filhos, tudo bem virar duas noites seguidas, dormir dois dias, trabalhar 7 dias por semana por dois meses e depois passar um mês inteirinho no marasmo. Mas quando o pequenos vêem, isso enche um pouco o saco. A gente quer fazer planos, viajar, ficar junto e nao depender 100% do tempo dos contratos que a empresa vai assinar. A gente combinou que, de qualquer jeito, iriamos trabalhar em qualquer coisa no inicio e que a gente nao ia queimar todas as nossas economias fazendo supermercado em dois pra um (dois reais pra um dolar). Combinamos que iamos pra batalha juntos, que se nao desse a gente voltava e que seja o que Deus quiser. Alias, uma coisa que nos acalmava muito quando a gente ouvia falar da vida aqui, ou quando a gente lia na internet é que..aqui...so nao trabalha quem NAO QUER. Isso nos tranquilizava, ja que nao tinhamos medo de trabalhar em qualquer coisa, e estavamos mesmo prevendo que teriamos que fazê-lo. De fato, essa é uma realidade. Quem ta afim de trabalhar, de por a mao nao massa, nao tem problemas em achar um trampo (e nao interessa nem o nivel do francês). Claro que nao vai ser o trampo dos sonhos da criatura, mas pelo menos nao precisa ficar gastando de dois pra um e nao precisa mexer nas suadas economiazinhas. Bom... é assim que a gente pensa, tem quem nao concorde.
Mas tudo isso pra dizer que chegando aqui foi tudo bem como a gente pensou. Estudamos francês, achamos uns trampinhos, eu esperando a resposta do doutorado, ele pesquisando sobre o ramo dele. Depois de quatro meses eu tive a minha resposta positiva e ele..a dele. A dele foi que a area dele aqui é muito parecida com o que é no Brasil. Trabalha por contrato, quanto tem trampo de ferra, quando nao tem, nao tem. Instavel. Atrolhada de gente saindo das escolinhas que ensinam o que ele ja sabe ha uma pa de anos. Pensam que ele se deprimiu? Que nada. De uma forma ou de outra ele tava preparado, foi tocando como deu. Achou um trampo nessa multinacional onde ele ta até hoje. Pensamos que ia ser temporario. Mas voila que ele gostou. A galera era legal, dava pra treinar bastante o francês (alias o dele melhorou muito depois disso), eles oferecem treinamentos, RER, seguro saude. Ele curtiu, ele ficou. Nao vou dizer que fosse o trampo que ele sonhou (e menos ainda a familia dele que arrancou os cabelos no Brasil...hehehh). Mas ele encarou, tocou como deu.
E é por isso que hoje eu faço uma homenagem publica ao homem da minha vida, que é um verdadeiro Homem, com H maiusculo, que é macho pra caramba, como diz a minha mae. É um baita guerreiro! Vejo todo mundo elogiando seus maridos por terem achado empregos nas areas deles (na maior parte informatica), e acho isso muito justo. É muito bom achar emprego na area que a gente trabalhava no Brasil. Especialmente SE a pessoa realmente ama essa profissao. Foi o meu caso. Tiro meu chapéu, parabéns a todos. Mas acho que sao, tanto quanto ou mais admiraveis, as pessoas que sao capazes que avaliar que nao eram felizes em suas areas e recomeçar. Ter humildade pra aprender um outro metier, batalhar, suar (literalmente) a camiseta. Nao é pra qualquer um. Meu marido foi criado pra ser playboy e olha ele aqui.
Nessa empresa que ele ta, o legal é que tem muita chance de progredir, e ele aproveita cada uma. Escrevemos cartas, preenchemos formularios, vamo la. Ele ja mudou duas vezes de cargo. Duas mudanças pra melhor. Mas agora veio a promoçao que ele queria. Nao tô cabendo em mim de alegria. Por que ELE merece. Graças ao BOm Deus, eu ganhei a melhor bolsa de doutorado que o governo do Canada oferece e ainda trabalho na universidade. Se ele quisesse podia virar 'dono de casa'. Ainda mais que nos nao temos la grandes ambiçoes materiais. Nossas ambiçoes tao em outro niver. Mas nao. Ele colocou a cara dele e batalha.
Entao a homenagem é pra ele, e pra todo mundo que como ele, nao estao encostados em ninguém e tao batalhando como podem e com as armas que têm. Gente digna e capaz. Capaz de seguir seu caminho com seus proprios pés e ainda caminhar lado a lado com alguém. Pessoas como eu que, em outros paises, em outras linguas, seguem o caminho que começaram, merecem homenagens, sim. Mas gente como ele, merece muito mais. Entao, meu amor, fique sabendo que eu sou ENORMEMENTE FIÈRE DE TOI!!!! Com promoçao, ou sem promoçao, o verdadeiro GUERREIRO aqui é tu.

Monday, January 28, 2008

Beyond the mother tongue

Comentado os comentarios...Sandra: sorte a de vocês de ter tido uma boa experiência. Eu desejo de todo o meu coraçao que todos os professores da francisaçao em Québec sejam como a profe de vocês. Talvez eu tenha apenas tido ma sorte...mas te falo em pé frio, hein? Duas vezes e em dois colégios diferentes! Alias, a Dani também pegou um bananas como ela diz... pelo menos nao sou so eu...heheheeh Falando em Dani, ela tem mesmo toda a razao. Coisa irritante é mesmo imigrante preguiçoso, so piora se for presunçoso também...Sai de mim! Agora, quem acabou inspirando este post foi a Camila. É que ela me lembrou de comentar alguma coisa que sempre penso, mas nunca lembro de escrever.
É bem verdade que a 'fluência' na lingua (no caso francês) é importante para integraçao. Ninguém nega. Mas também...nao é tttuuudddoooo iiissoooo! Explico-me. Uma professora la da universidade esta fazendo uma pesquisa sobre os acomodements raisonables e uma das minhas amigas trabalhou com ela. Pois ai, a gente falando sobre imigraçao, linguas e tal, a minha amiga me conta sobre uma pesquisa que ela leu em funçao deste trabalho. Os caras estavam verificando os principais fatores que contribuiam para a boa integraçao dos imigrantes. Nao me perguntem detalhes por que eu nao li o tal paper. Mas o que ela comentou foi que a lingua...pasmem...nao é o principal. Ai o pessoal em volta riu e disse que eu era o melhor exemplo disso. É que quando comecei meu doutorado eu compreendia muito bem francês e era capaz de me fazer entender sem problemas, mas a fluência...nem cheiro. Alias, essa historia de se fazer entender é meio fraun. Quando eu perguntei pra uma monitora da francisaçao qual era o bendito objetivo deles la, ela me respondeu que o principal era que os imigrantes 'se fizessem entender'. Bem modesto este objetivo, ja que até com sinais de fumaça a gente é capaz de se comunicar...mais bon. Mas voltando ao assunto, eu era bem meia-boca (ainda sou, mas era mais). Mesmo assim, nunca tive grandes problemas de integraçao. Entao o pessoal achou que a tal pesquisa tinha tudo a ver.
Pra quem sua neste bendito francês que nem eu, ouvir isso é bem estranho. A gente pensa que, se soubesse melhor a lingua, estaria mais safo ainda. O que pode até ser verdade. Mas pensando bem, as conclusoes dos caras tem algum sentido. É obvio que ter um nivel meia-boca da lingua é hiper-necessario, mas nao é tudo. Se fosse, era so jurar que todos os marroquinos, libaneses e outros paises onde eles estudam francês desde pequeninhos, iam se adaptar muito facilmente aqui, o que nao é vedade de jeito nenhum. Sim, tem muitos que se adaptam, mas tem outros que nao. O que prova que ha algo além da lingua que influe ai na historia. De novo...nao li o paper...nao sei que outros fatores eles listavam, mas posso presumir da minha cabeça (ja que esse aqui é o meu blog e...diferente de meus trabalhos de todo o dia, eu posso dizer so o que EU penso...oh, liberdade!).
Pro meu gosto, esse lance de integraçao tem muito mais a ver com uma postura subjetiva do 'ser'. Os imigrantes mais bem integrados que eu conheço (nao tô contando as gurias casadas com québecois, que ja saem muito na frente no quesito integraçao), têm uma coisa em comum: boa vontade. Parece muito simples, mas pra mim é isso. Boa vontade. Boa vontade de tentar, errar, quebrar a cara, rir um pouco de si mesmo e tocar o barco. Gente que nao se leva tttaaaooo a sério, que ta mais afim é de viver o que for e fazer o que der. Gente que nao ta esperando resultados pra amanha e nao acha que, so porque veio de outro pais, todas as portas têm que se abrir automaticamente pra sua majestade - ele. Se os québecois sao frios ou quentes, eu nao sei. Pra mim sao como as pessoas de qualquer outro lugar do mundo: tem os nota 1000 e tem os podres. Escolhe teu lado. Entao, é so pra dizer pra Camila que, d'après moi, quanto mais a gente sabe a lingua, melhor. Mas sempre lembrando que isso NAO é tudo, e ... (vou mais longe e me arrisco...) TALVEZ nao seja nem o principal. E so pra acabar, quanto eu penso em integraçao por aqui, sempre lembro daquela musica do Cazuza que diz:
' a solidao é pretensao de quem fica escondido fazendo fita'.

Saturday, January 26, 2008

Desabafo tardio

Semana passada comecei um post pra responder algumas questoes que recebi nos ultimos...3 ou 4 meses... Pouco atrasada, né? Comecei a responder o mais organizadamente que podia, até que a Cris (minha amiga do coeur) me chamou no MSN. Ai eu fiquei falando com ela e tentando escrever ao mesmo tempo. Nao deu, obvio, e ainda por cima apaguei sei la como, tudo que e tinha escrito. Baita anta! Bom, recomeço hoje, mas so vai dar tempo pra responder pro Rodrigo Mergulhao, que me pediu pra falar da metodologia de ensino na francisaçao.
Em primeiro lugar quero lhe agradecer por me considerar uma pessoa 'cabeça' (tomei como elogoi, viu?heheheh). Embora nao acho que eu seja (de jeito nenhum...hhhiiii) foi muito querido, valeu. Como o Rodrigo disse estar lendo os outros posts, nao tive muita certeza do quanto eu teria ou nao escrito exaustivamente sobre a minha experiência de francisaçao. O caso é que agora, o Rodrigo alertou os gansos, atiçou as lombrigas, e me deu comichao de escrever (talvez de novo) sobre o bendito curso de francês que o MICC oferece. Talvez, eu nao responda a pergunta dele muito bem, mas...vamos ver.
1) Pro meu gosto esse curso nada mais é do que um 'teste de resistência' pro recém-chegado. Se tu conseguir fazer todo o curso sem bater em ninguém, sem desenvolver sintomas depressivos profundos e...sobretudo, sem te suicidar...tu ta pronto pra vida de imigrante. Exageros a parte, até agora nao entendi a moral. Pelo que sei os professores sao super bem pagos, tem uma fila enorme de gente querendo dar aula pro ministério, as instalaçoes em geral sao otimas (as nossas aqui no Colégio Montmorency sao super legais), enfim...nao entendo por que tem que ser TAO ruim. Claro...claro... essa é a minha humilde opiniao de pessoa exigente e mala. Na blogosfera ta cheio de gente que teve mais sorte que eu e diz que ficou em grupos maravilhosos, que adorou, etc e tal. Sei la. Talvez nos blogs destas pessoas o Rodrigo possa achar uma resposta mais objetiva e clara pra pergunta dele. Aqui...provavelmente ele vai ler muito mais um desabafo com a esperança que alguém em contato ministério da imigraçao leia e leve adiante (doce ilusao...hehehehe). Preciso apenas dizer que so fiz dois niveis da francisaçao: o ultimo do oral (nivel 3) e o escrito.
2) A metodologia é classica pra cursos de lingua... Aulas de gramatica com uma apostila até que boazinha, alguns exercicios...normal. Aulas de conversaçao, patéticas. Explico: na mesma turma de nivel 3 tem gente capaz de conversar meia-boca (tipo se fazer entender) e gente incapaz de ler uma frase no livro. Nao é brincadeira. Na hora da conversaçao os profes queridos misturam quem sabe um pouco mais com quem nao sabe p..nenhuma. É 'otimo'! Entendo que se eles colocarem so quem nao sabe juntos , nao vai sair absolutamente nada...mas da um tempo! Sabe aquela coisa do aviao: deixa eu colocar a minha mascara de oxigênio primeiro pra depois te ajudar a colocar a tua? Pois é...eles nunca devem ter ouvido isso. Acho a solidariedade uma beleza, mas quando a gente ta podendo ser solidario. Quando tu mesmo precisa exercitar teu francês (questao de sobrevivência), precisa aprender, ta te esguelando de estudar e tal...ter que ficar aguentando imigrante deprimido, preguiçoso, gente que nao faz nenhum esforço e so ta la por causa da bolsinha mirrada que eles dao...É DEMAIS PRO SACO DO CIDADAO!!!! Deu pra ver que mesmo falar nisso me irrita? heheheheh Claro que nao sao todas as pessoas que têm dificuldade que sao preguiçosas e mal intencionadas...de jeito nehum. mas tem uma parte que é sim. E que ficam la, sessao apos sessao, sem melhorar em nada a merda do francês deles e ainda fazendo os outros que tem mais objetivos e planos, perder seu precisoso tempo. Mas ufff! Voltando a metodologia. Eles tentam fazer a gente entender um pouquinho da historia do QC, fazemos algumas visitinhas (geralmente a cabane a sucre), e sobretudo parecem preocupados que a gente entenda a forma de falar dos québécois. Isso deve ser por causa das pessoas que acham muito dificil o sotaque quebecois, as girias e tal. Mas sinceramente, pra mim, o unico jeito de se adaptar é ouvindo o mais frequentemente possivel o francês deles. Va ouvir TV, radio, falar com as pessoas, pergunte...te mete. Até é um pouquinho util, a forma como eles exlicam no curso, mas é quase nada. O que me irrita mais é aquela classe de imigrante que mal estudou sua lingua materna, tem um nivelzinho basico 3 ou 4 quando chega aqui e sai por ai falando que 'nao entende o francês dos québécois', que 'como é feio' e tal. Ah, so um pouquinho! O que tu nao entende, querido, é a lingua francesa ponto. Para de ficar colocando a culpa nos québécois e te liga pra entender. Quando eu vou pro serao do nordeste, onde minha mae nasceu, as vezes também tenho dificuldade de entender o português deles, e nem por isso saio por ai dizendo que 'aquilo nao é português'. Se o português pode ter mil caras, por que nao o francês? Bom...mas continuando na meto (ta dificir...heheh). A parte que eu mais odiei (e que teve nos dois cursos que eu fiz) foi a tal de preparaçao para o emprego. É uma real piada, e o pior é que ocupou a maior parte das atividades extra-gramatica dos cursos. Como fazer seu CV, o que escrever na sua carta de apresentaçao, como se comportar numa entrevista...arhg! Nada contra e tenho que admitir que possa ser até bem util pra algumas pessoas. O que eu acho o fim da picada é que isso aconteça no curso de fran-ci-sa-çao!!! Existem um monte de escritorios financiados pelo governo pra ajudar os importados a procurar emprego depois. Tem um monte de sites que dizem como fazer um CV ou uma carta. As criaturas estao ali pra aprender FRANCES, que por meu gosto tem muito mais a ver com exercicios interessantes, correçao da pronunciaçao, leituras, vocabulario e tal. É patético (hoje eu tô usando muito este termo) ver aquelas pessoas que mal sao capazes de comprar um café na lancheria, tentando se preparar pra uma entrevista de emprego.
3) Os professores que tive sao outra pérola.... Quando chegamos fizemos um cursinho num centro comunitario, nao era o oferecido pelo MICC. A professora, Sylvie, era uma québécoise barbara, hiper-aberta, divertida. As aulas eram mais ou menos a mesma coisa, com a diferença que a gente falava muito mais, lia muito mais. Ela pegava aqueles jornaizinhos gratis do metro e fazia a gente ler e discutir as nouvelles. Nada de complicado. Um jornal, uma sala simples e uma professora. Tudo de bom! Aprendi demais com ela. Agora os profes que eu tive no MICC...franchement! Primeiro um cara que era tao monotono, tao monotono, que nao dormir ja era o grande desafio. Além disso era mala. Além disso era incompetente, no fim eu nao acreditava em mais nada que ele dizia. Na verdade, nao acreditei mais depois que ele declarou solenemente que a palavra 'legume' em francês é um substantivo feminino. Voyons donc! Ah...ele era imigrante também...e daqueles bem desenchavidos que nao estava trabalhando no que mais queria e tipo...achava que o QC nao reconhecia suas 'qualidades e talentos'. Bom...em todo caso...eu também nao. A professora do francês escrito era melhorzinha. também imigrante so que chegou aqui muito criança, mas mesmo assim mantinha aquela coisinha 'ninguém me ama, ninguém me quer'. O grupo também era um pouco melhor, pelo menos a gente podia conversar em francês. Agora, pra mim ela acabou quando perguntou como era a relaçao que a gente tinha com os québécois. Eu falei que até aquele momento era boa (fazia 4 meses que eu tava aqui), que eles eram gentis e tal. Ai ela concordou mas disse que a gente nao fizesse ilusoes, por que os quebecois nunca iam nos convidar pra jantar na casa deles. WHAT??? Pois ela falou. Falou isso pra um grupo de imigrantes, na maior parte recem-chegados. Tem sentido? Depois ficou falando que eles tem preconceito e mais essa, mais aquela. Eu que nao me encaixo no perfil cucaratcho arrependido, quase me esganei.
Finalmente, o que eu quero dizer é que nao sou contra a francisao oferta pelo governo. De jeito nenhum. Atualmente tem um grande debate acontecendo sobre o francês no QC, ja que algumas pessoas dizem que ele esta desaparecendo. Isso foi um resultado de uma pesquisa que eles fizeram em Montréal onde descobriram que pra achar emprego no centre-ville basta saber inglês. Claro que os azuis pularam de suas cadeiras e com razao. Agora os partidos politicos estao debatendo sobre o que deve ser feito para reverter essa situaçao. Pro meu gosto, o formato da francisaçao nao é tanto o problema. O problema é que quem coloca em pratica nao é bem selecionado, muito menos acompanhado, muito menos treinado, e como a gente sabe o professor é um elemento essencial para a aprendizagem. É brabo aprender a gostar de francês com um professor desmotivado ou infeliz. É brabo! Os professores que eu tive no MICC nao estavam muito ai pro progresso dos alunos. Isso eu acho triste. Claro que nao é a unica razao do aparente 'desaparecimento' do francês. Mas talvez conte. Pensa bem. A criatura passa quase um ano (pra quem faz desde o inicio) aprendendo uma lingua e nao aprende. A criatura se vira meia-boca em inglês indigena. O que tu acha que ela vai fazer na vida real? Obvio que vai se virar em ingês forever. O que é uma pena por que, no meu ponto de vista, nao falar francês aqui restringe bastante a tua vida pessoal e social. Mas isso é outro post. Minha magoa maior é ver o meu pais, os impostos deste povo, sendo usados pra financiar um programa que tem tudo pra ser o maximo e que nao é, por puro erro de logistica e competência de quem mete em pratica. Falei.

Monday, January 21, 2008

Céline

Nao tenho nenhum problema em reconhecer que eu sou uma mala. Porém, uma qualidade pelo menos eu acho que tenho: reconheço quando me enganei. Pois ontem fui obrigada a me olhar no espelho e dizer: tu étais dans les papates! Neste caso as minhas conclusoes erradas tinham tido como alvo o xodo do Québec: Céline Dion. Nao vou entrar no mérito das estatisticas de quantos porcento dos québécois gostam ou nao dela. Estou me baseando no fato que que a fofa construiu um teatro pro show dela em Las vVgas, show este alias que custou a bagatela de 300 milhoes de dolares. So um pouquinho: detestada é que essa mulher nao é. Além disso ela ta o tempo todo na midia, nem um dia se passa sem que a gente nao ouça falar nela na tevê ou no radio. Eu que, até a minha chegada ao Québec o maximo que sabia é que ela cantava a musica do Titanic, depois que estou aqui foi impossivel nao estar um pouco mais por dentro de sua vida, de quem era, da infancia dificil e tal. Mas até ai... sei la...nao me emocionou muito. Essas historias de vidas dificeis a gente ta de saco cheio de conhecer, com tanto jogador de futebol que de favelado passou a playboy no Brasil...e ca entre nos...na maioria das vezes sao historinhas um pouco romanceadas.
Ai acabei vendo algumas performances da moça. Sinceridade? Achei bem pouco emocionantes. Acho ela mais do quem sem graça em cena, apesar da voz maravilhosa, e quando ela quer dar uma de sexy entao....aiaiai...é tao atraente quanto um prato de alface (sem tempero). Arghs! Realmente, nunca achei nada demais. Nunca me disse nada.
Mas dai que ontem, chegando em casa depois de um almoço daqueles que tu fica ruminando que nem um camelo sentado na poltrona, nao tinha nada que prestasse na televisao. Abaixo de protestos da parte de meu amado conjugue, nao quis nem saber, deixei no documentario que tava dando sobre os shows da Céline em Las Vegas. O guri la, reclamando, reclamando e eu nem tchuns. Segurei o controle firme, ja que meu processo de ruminaçao tava me deixando sem forças até pra argumentar ou mandar ele catar coquinho ailleurs. E eis que...tal documentario me fez ver Céline de uma forma completamente diferente. Ainda acho sua voz maravilhosa e suas performances agua com açucar, mas ali e descobri o porquê de tanto sucesso pra essa criatura. Entendi que o que mantém tantos anos de uma carreira de sucessos, numa época de tanta gente descartavel, é a relaçao que ela consegue manter com os fas. Me abri pra criatura! A forma como ela trata CADA fa é absolutamente incrivel. Algumas pessoas eram selecionadas pra falar com ela antes dos shows e eles filmaram uma destas ocasioes. Dai eu vi que ela é muito mais do que publicidade dela mesma. Desculpe ai, mas o olhar nao engana. Caramba tchê, a mulher tratava cada uma daquelas (acho que quase cem) pessoas como se fosse o unico fa dela no mundo todo. Ela parava, sorria, olhava no olho da pessoa, ouvia o que tinha a dizer, perguntava, se interessava, batia papo mesmo com o tempo corrido pra dar atençao a todo mundo. Ao total, acho que a tal sessao nao deve de jeito nenhum ter demorado mais de uma hora, mas os segundos que ela passou com cada pessoa, tenho certeza, foram inesqueciveis pros fas. Cada um se sentiu unico e ai...Céline Dion me ganhou. Poucas vezes vi uma artista tao franca, tao sincera com seus fas, tao verdadeira. Invejei a capacidade que ela tem de fazer as pessoas se sentirem unicas no mundo por alguns segundos. Cada um sentia que aquela grande estrela que eles veneravam, podia muito bem sentar com eles no salao pra comer pipoca no sabado a noite. Que simplicidade passa essa mulher. Muito ao contrario das minhas idéias de que ela fazia o estilinho boazinha Polyanna (blraghs!), eu descobri uma mulher cheia de senso de humor, capaz de rir dela mesma, palhaça, atrapalhada e ao mesmo tempo hiper disciplinada e com uma baita confiança no trabalho e no esforço.Uma confiança que nao tem tanto a ver com o talento em si, mas com a capacidade de se entregar, de ser disciplinada. Uma coisa que me marcou, foi que ela disse assim (se referindo ao projeto de Las Vegas): 'S'il y a quelqu'un que puisse le faire, c'est moi. Parce que s'il y a une fille disciplinée en ville, c'est ben moi.' Achei isso super porque sai daquela lenga lenga : 'sou bela, sou forte, sou inteligente'. Passa pra: sou capaz de dar tudo de mim, de suar, de investir forte, de me entregar.
Enfim...curti ela como pessoa. Ainda nao pagaria pra ir num show dela, mas se ganhasse ingresso...agora até iria. O mais legal foi descobrir a razao que faz com que ela seja tao amada: ela mesma. E se ha uma coisa que me faz admirar uma mulher é a capacidade e a coragem de ser ela mesma (ca entre nos, coisa bastante dificil). Tudo bem que tem um monte de marketing e imagem em cima disso, mas o olhar e a atençao que ela da a cada fa...desculpe ai...nao sao fakes de jeito nenhum. Nao posso dizer que sou fa dela, mas aprendi a admirar a cocotte preferida do Québec.

Thursday, January 17, 2008

It's pumping!

Credo, que vergonha! Quanto tempo que eu nao dou as caras aqui. Ainda bem que estaço virtual nao cria poeira, teias de aranha, baratas. Ainda bem! Em primeiro lugar queria me desculpar com todas as pessoas que eu nao respondi nestes ultimos tempos. Calma, amigos, calma! Eu quero responder mas a coisa aqui ta uma lou-cura! It's really pumping! (Como diriam os véios surfistas). Nem sei por onde começar.
Nossa semaninha de férias de Natal foram maravilhosas. Ficamos o tempo todo os quatro mosqueteiros grudados, foi uma delicia! So nao foi mais por que, na real, eu nao me dei muito férias. Tinha varias coisas pra adiantar durante esse periodo, fait que... de vez em quando tinha que me acordar as cinco da manha pra trabalhar umas 3 horas antes que o povo saisse de cama e me chamasse pros crepes matinais. Mas deu pra descansar e se divertir. Estou orgulhosa de mim mesma por que venci muitos medinhos, o principal sendo o de colocar um esqui no pé e sair pra montanha. Sim, por que esqui de fond eu simplesmente a-mei! Claro que fiz meus pequenos showzinhos caindo de cara na neve e nao conseguindo desvirar os esquis pra levantar. Mas coisa pouca, se comparado ao meu grande show no esqui alpin. Ai, ai. Espero que eu nao esteja rolando no youtube, mas se estiver nao tem importancia por que eu tive o cuidado de ir pra pista da escolinha absolutamente irreconhecivel....hihihi uffa! Posso dizer que diverti a galera que tava la. Nunca uma pista de escolinha de esqui teve tanta emoçao. Fazia muito tempo que eu nao dava tanta gargalhada. Ainda bem que tive a sorte de conhecer o Stan, um senhor que ensina esqui ha mais de 40 anos (e que provavelmente nunca teve uma aluna tao podre como eu). Apesar de meu talento bem lastimavel, ele conseguiu me ensinar a trocar o peso e, quando a minha hora de aula terminou, eu ja conseguia descer a lombinha ridicula da escolinha sem (muito) medo, até pode-se dizer que "esquiando". Fiquei feliz da vida! Depois da aula fiz uma hora de treino sozinha (o pior é subir no tal tapete magico pra la de lerdo, com aqueles esquis enormes) passei pra lombinha da escolinha nivel "retartado 2", um pouquinho mais inclinadinha. Duas horas depois me mandei pra montanha com o Michael. Ai sim! Nao sei se posso dizer que esquiei na montanha (ou se rolei de cima à baixo), mas fiz duas vezes a pista chamada "Vagabond", e...ainda mais emocionante...peguei duas vezes o lift hihihi(aquelas cadeirinhas, mae! Tu acredita? Eu saindo esquiando daquelas cadeirinhas balançantes?). Voltei contente! Finalmente pude compreender e participar de todas as conversas sobre esqui do pessoal aqui no bureau. Claro que, na primeira vez eles so se mataram de rir das "aventuras de uma cucaratcha na pista de esqui", mas tudo bem. Por outro lado, meus filhos sao o maximo. Com uma hora de curso o professor os levou para as montanhas e de repente o Pedro passa voando montanha abaixo na pista que acaba do lado da escolinha. A Giu também vai hiper bem, mas é mais cautelosa. A unica abobada sou eu mesmo, fazer o quê?
Fora isso a vida vai. Esse ano comecei com a pilha toda, completamente renovada e cheia (cheia mesmo) de esperanças. No reveillon vesti vermelho, pulei na neve (7 vezes, claro), coloquei a bunda pra lua (com alguma dificuldade ja que era lua nova, mas enfim...botei a bunda pras estrelas), comi lentilha, tomei champagne, cantei, sambei. Adoro ano novo! É tempo de renovaçao, de rever metas, objetivos...tempo de olhar pra frente e erguer a cabeça. O que passou, passou. Que venha o novo (por mais assustador que possa ser)!
Tenho muitos planos pra 2008, que seja dito en passant é o ano de Iansa no candomblé (por isso é que disseram pra todo mundo vestir vermelho...no Brasil, né? Aqui ninguém ta muito ai pra isso). Na verdade nunca fui numa sessao de candomblé, mas alguém muito entendido no assunto me falou que eu sou filha de Iansa, que é Santa Barbara pros catolicos. Achei interessante por que a minha amiga Cris disse que pra ela falaram a mesma coisa, e como nos somos hiper parecidas, achei que podia ter a ver. Pois ai, dando uma de quem nao tem nada pra fazer, resolvi procurar alguma coisa sobre as tais caracteristicas dos filhos desta que é considerada a 'senhora dos ventos e tempestades'. Olha o que eu achei:
"Iansã é uma Deusa ligada à manifestação do feminino na fase crescente, trazendo em si a qualidade do movimento. Une passado com o futuro, o lado sombrio da Lua com o lado iluminado, que anuncia um novo começo. Iansã está ligada com o número 9, que é o movimento puro.
As filhas de Iansã são mulheres audaciosas, poderosas, autoritárias e dinâmicas. Estão sempre procurando algo para se ocupar, são cheias de iniciativa e determinação. São mulheres que nunca passam despercebidas, pois são combativas, teimosas e temperamentais, mas também podem ser doces e meigas, quando possuem interesse em seduzir algum homem.
A mulher-Iansã é o tipo de mulher que está mais voltada para o amor sensual do que para o amor maternal. Ama os filhos, mas consegue maior expressão quando se sente admirada e desejada por um homem, o que geralmente provoca o ciúme e a inveja das outras mulheres.
É também uma mulher que está ligada ao passado, ao coletivo, pela origem comum da necessidade fertilizadora do feminino e está ligada ao futuro pela necessidade de diferenciação, que a tirará do coletivo e a jogará sempre para frente, para o novo. É inconformada e inquieta, está voltada para o impulso de empreender coisas, de realizar seu poder criativo. A atualização dessa força criadora dependerá da forma como ela direcionar esta energia, que muitas vezes pode ser desviada para outros fins, ou ser esvaziada.
O perigo é permitir que as barreiras sociais a entravem, desviando a energia criativa para a neurose.E, a neurose é parada de movimento. Todo aquele que se recusa a viver o futuro, apegando-se ao passado, estagna.
A mulher que sente impulso para criar, para dar significado ao seu mundo, precisa ser fiel aos seus conteúdos internos, à Deusa dentro de si. O ato criativo é o processo de se arriscar, de se jogar no desconhecido, de mergulho nas fontes fertilizadoras, da viagem interna em busca da essência das coisas. O desejo de criar move o contato com o informe pela necessidade de dar forma, de arrancar da terra coisas vitais para alimentar a consciência."
In: http://www.rosanevolpatto.trd.br/deusaiansa.htm
Sei la...mas nunca tinha lido descriçoes tao precisas da mim mesma. Vi em outros sites também e o papo é mais ou menos o mesmo. Ou seja...sei la. De todo jeito gostei. Gosto desta coisa de santos e tal, curto isso. Enfim...por uma razao ou por outra...tô com todo o gas. Alias, ainda bem por que esse ano vou precisar. É um ano decisivo pro doutorado onde a gente traça tudo e começa a mandar bala. E mandar bala significa muitas horas em funçao de comitês de ética, apresentaçoes de projeto, reunioes, entrevistas, observaçoes e por ai vai. Claro que tudo fica mais facil por que eu adoro isso e o maior problema é conter a ansiedade e achar espaço pra tudo na vida. Mas isso eu tô aprendendo. Tô curtindo a neve, sair pro ar puro (mesmo a menos 20). Tô curtindo meu sofa, minha casinha, meus troços. Sem falar nas crias e no chum, que nao se deixam esquecer por um minuto hihihi ( de qualquer forma eles nao sao 'esqueciveis').
É isso, espero que todo mundo esteja com todo gas também e desejo tudo de maravilhoso pra vocês que acompanham a nossa saga.

Saturday, December 29, 2007

Reflexoes natalinas

Eu bem que queria ter escrito no Natal...nao deu. Estamos numa verdadeira via-sacra de Natal...poramorde Deus! Mas nao tem muito a ver com compras, nao. Ja que nao fugimos pro Brasil, aproveitamos pra experimentar as atividades por aqui e no frio mesmo. Fazer o quê? Escolhas sao escolhas e cabrito bom nao berra...hihihi Na real, tô brincando por que, como eu ja disse, sou abslutamente contra toda esse alarmismo que algumas pessoas fazem do frio. Nao entendo muito. Talvez nao se agasalhem bem...sei la. Ta, nao vou dizer que tu morras de vontade de sair de casa, olhando o dia ta meio cinza, a nevinha e, sobretudo, a noite que cai as 16h. No entanto, a minha estratégia pra encarar as situaçoes novas é so uma: enfrentar. Tem que sair. Tem que investir em roupas (e equipamentos) adequados e sa-ir! Esses 'equipamentos' nao sao luxo, de jeito nenhum aqui. Pro meu gosto, eles estao mais pro Prozac das neves. Ano passado eu e o Rudi nao tinhamos nem calça de inverno, saimos uma vez pra glissade e quase morremos congelados. Aprendemos. Esse ano me equipei e digo: foi a melhor coisa que eu fiz. Perdemos todo o medo de sair na neve e estamos nos aventurando, lentamente, em todos os esportes de inverno: patins, glisade, ski de fond, ski alpin. Ta certo que a minha desenvoltura ainda é bem parecida com a de uma elefanta na loja de cristais, mas nem tô. Meu objetivo é so sair de casa, me divertir com meus filhos, respirar ar puro, me mexer e... de preferência...gastar
umas caloriazinhas. Qual é o problema de ganhar uns roxinhos no traseiro de bonus?
Pois é, mas voltando ao Natal. Aqui em casa foi tudo meio sui generis. Tinhamos alguns convites de amigos aqui e ali, mas resolvemos que as crias é que iam decidir. Foi engraçado por que pensamos que eles iam se disputar, cada um querendo uma coisa...mas nao. Quando demos as opçoes e perguntamos onde eles queriam ir, eles responderam em coro: queremos ficar na nossa casa. Period! Achamos meio estranho, ja que eles também gostam de estar com os amigos, mas eles responderam que nos nunca passamos o Natal em casa, o que é verdade. Quando estavamos em Porto iamos pra mae, se estavamos em Sampa, pra sogra, e ano passado fomos pra casa de alguém, talvez por medo de encarar o primeiro Natal sem nenhuma familia. Que besteira! Foi preciso nossos filhos nos acordarem para o fato de que, aqui, a nossa familia somos nos e o importante é que nos estejamos juntos. Esse é o verdadeiro espirito de Natal pra mim: lembrar de quem a gente mais ama e ficar muito junto.
Mas as novidades nao acabaram por ai. Perguntamos o que eles iam querer comer, e eu ja calculando onde encomendar o pedido, ja que eu NUNCA pensei em passar o dia todo olhando pra cara de um peru no forno. Esquece! A unica vez que acompanhei alguém fazendo isso, me deprimi. La pelas tantas eu ja tava pensando na familia do peru, nas matanças dos animais, nas energias que isso pode acumular e acabei a noite quase jurando que ano ano seguinte eu viraria vegetariana (so nao virei por causa da picanha sangrenta e gordinha que meu vô me ensinou a adorar...sacanagem...hihihi). Além de tudo, nao sou nada talentosa pra cozinha e faço questao de nao ser. Como eu digo por Rudi, eu ja aprendo muitas coisas, tem algumas que eu simplesmente nao quero aprender. Sai de mim. Até curto cozinhar quando tô afim...mas nao me força. E nao gosto de datas marcadas pra fazer coisas, tipo 'hoje é dia de cozinhar para a familia com sorriso no rosto'...nao consigo. Bom, mas tudo isso pra dizer que, outra vez as crias estavam de pleno acordo...parecia até que ja tinham se combinado. Declararam em coro que queriam comer ...sushi. Nada mais, nada a menos. Putz! 33 anos comedo peru ou porco no baita calorao, pra chegar na neve e comer...sushi. Ta certo. Entao nossa ceia foi sushi, em casa, de pijama, do lado da nossa arvore cheirosissima...entre nos. Tudibom! Sem nenhuma duvida esse foi o melhor Natal da minha vida. Gosto de estar com a familia. Adoro. Mas estar com a minha familiazinha é a melhor coisa do mundo. Sao as pessoas que eu amo acima de tudo, aqueles sobre os quais eu me sinto responsavel, meu porto seguro, como eu disse na dedicatoria da minha tese de mestrado.
A coisa mais dificil do Natal é mesmo comprar os presentes. Ainda mais com a familia longe e que manda grana pras crias comprarem o que quiserem. Eles adoram, mas quem gasta sola de sapato somos nos...Ainda bem que esse ano me depechei e comprei a maioria das coisas antes da loucura furiosa. Alias, as compras também sao sui generis por aqui. Eles vao, escolhem, compram, nos guardamos e so abrimos na noite de Natal. Nunca consegui contar historia de papai noel pra ninguém. Talvez por que eu nunca tenha acreditado (minha mae também nao me contava), nunca consegui transmitir essa ....tradiçao. Eu acredito em Cristo, o cara que nasceu pobrezinho e que nos ensinou (ou pelo menos tentou) que a gente teria que amar o nosso semelhante, de preferência nao sacanea-lo, nao ferrar sua paciência, respeitar seu espaço....amar. Quer seja branco, preto, amarelo, use véu, turbante, fume cachimbo ou pot...a gente teria que respeitar e perdoar e tentar amar. Negocio de velhinho gordo, em cima de umas renas, carregando presentes pelo céu, nunca fez a minha cabeça.
Lembro que quando eu era criança, nao entendia como os outros podiam acreditar nisso. Um velhinho gordo, com uma pacote enorme de presentes, puxado por umas pobres renas...puta sacanagem! Obviamente eu e meu irmao eramos o terror dos amigos dos meus pai, que pediam poramordavaca pra gente nao contar pros filhos deles que papai noel é uma baquice. A gente bem que tentava, mas acho que acabamos por desfazer algumas fantasias infantis ao longo do caminho. Nossos filhos também foram (e ainda) o terror dos nossos amigos e muitas vezes tivemos que pedir que eles mudasse de assunto quando algum amiguinho dissesse acreditar em papai noel, coelhindo da Pascoa, etc. Nada contra os filminhos tao lindos que eles fazem pro Natal, como o Expresso Polar, por exemplo. A gente vê varias vezes e adora , mas é o que é...fa-ta-si-a...como Simpsons, como ET, como tantos outros. Meus filhos acreditam em pais que se matam de trabalhar o ano todo para poder dar tudo que eles precisam para viver bem, ter acesso a cultura, esporte e diversao. E brinquedos, obvio, por que eu acredito que as melhores fantasias sao aquelas que a gente cria na cabeça da gente, quando estamos sozinhos (ou com amiguinhos) e lemos um livro, inventamos uma historia pras Barbies ou pros bonecos e avioes. Isso pra mim é que é fantasia rica, que precisa ser incentivada. Isso é verdade. Historias prontas, fantasias fabricadas...pra mim nao passam de mentiras. Como eu nao gosto que mintam pra mim, nao minto pros outros. Fim de papo.
Entao esse é meu espirito natalino. Acho que o tempo de Natal serve, acima de tudo, pra gente pensar no quanto nos isolamos e olhamos pro nosso proprio umbigo durante o ano. O quanto ficamos fechadinhos na nossa historinha e, as vezes, pequenos problemas tornam-se enormes, e grandes problemas, incomensuraveis. Quando eu trabalhava pra tentar ajudar as pessoas a sairem de suas depressoes, lembro que uma das estratégias que eu mais gostava era de tentar fazer a criatura olhar além do seu umbigo, quando era o caso, logico. Geralmente quando a gente se da conta do que passa do lado, na rua de cima, no outro bairro, na favela, no hospital e até no cemitério, a gente percebe que tem muita coisa pra fazer, muita gente pra tentar ajudar. A gente se da conta que teria que sair um pouco da casca, ver mais longe, viver mais. Talvez essa seja minha mensagem de Natal, se é que podemos considerar isso uma mensagem. So que hoje eu queria colocar também uma mensagem de um cara bem mais talentoso que eu. Minha mae me deu seu livro quando eu casei, e essa ai é a parte que eu mais gosto. Alias, esse ano nas férias de verao, eu achei em inglês a mesma passagem em uma espécie de paneau oriental para ser colocada na parede. Colocamos na sala e agora leio quase todo o dia. Esse texto exprime exatamente o que eu penso do amor, e como Natal é amor, olha ai e Feliz Natal en retard!

O profeta (Khalil Gibran)

Amai-vos um ao outro, mas nao façais do amor um grilhao:
Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Encheis a taça um do outro, mas nao bebais na mesma taça.
Dai de vosso pao um ao outro, mas nao comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vos estar sozinho,
Assim como as cordas da lira sao separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos coraçoes, mas nao confieis a guarda um do outro.
Pois somente a mao da vida pode conter nossos coraçoes.
E vivei juntos, mas nao vos aconchegueis em demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
E o carvalho e o cipreste nao crescem a sombra um do outro.