Saturday, December 29, 2007

Reflexoes natalinas

Eu bem que queria ter escrito no Natal...nao deu. Estamos numa verdadeira via-sacra de Natal...poramorde Deus! Mas nao tem muito a ver com compras, nao. Ja que nao fugimos pro Brasil, aproveitamos pra experimentar as atividades por aqui e no frio mesmo. Fazer o quê? Escolhas sao escolhas e cabrito bom nao berra...hihihi Na real, tô brincando por que, como eu ja disse, sou abslutamente contra toda esse alarmismo que algumas pessoas fazem do frio. Nao entendo muito. Talvez nao se agasalhem bem...sei la. Ta, nao vou dizer que tu morras de vontade de sair de casa, olhando o dia ta meio cinza, a nevinha e, sobretudo, a noite que cai as 16h. No entanto, a minha estratégia pra encarar as situaçoes novas é so uma: enfrentar. Tem que sair. Tem que investir em roupas (e equipamentos) adequados e sa-ir! Esses 'equipamentos' nao sao luxo, de jeito nenhum aqui. Pro meu gosto, eles estao mais pro Prozac das neves. Ano passado eu e o Rudi nao tinhamos nem calça de inverno, saimos uma vez pra glissade e quase morremos congelados. Aprendemos. Esse ano me equipei e digo: foi a melhor coisa que eu fiz. Perdemos todo o medo de sair na neve e estamos nos aventurando, lentamente, em todos os esportes de inverno: patins, glisade, ski de fond, ski alpin. Ta certo que a minha desenvoltura ainda é bem parecida com a de uma elefanta na loja de cristais, mas nem tô. Meu objetivo é so sair de casa, me divertir com meus filhos, respirar ar puro, me mexer e... de preferência...gastar
umas caloriazinhas. Qual é o problema de ganhar uns roxinhos no traseiro de bonus?
Pois é, mas voltando ao Natal. Aqui em casa foi tudo meio sui generis. Tinhamos alguns convites de amigos aqui e ali, mas resolvemos que as crias é que iam decidir. Foi engraçado por que pensamos que eles iam se disputar, cada um querendo uma coisa...mas nao. Quando demos as opçoes e perguntamos onde eles queriam ir, eles responderam em coro: queremos ficar na nossa casa. Period! Achamos meio estranho, ja que eles também gostam de estar com os amigos, mas eles responderam que nos nunca passamos o Natal em casa, o que é verdade. Quando estavamos em Porto iamos pra mae, se estavamos em Sampa, pra sogra, e ano passado fomos pra casa de alguém, talvez por medo de encarar o primeiro Natal sem nenhuma familia. Que besteira! Foi preciso nossos filhos nos acordarem para o fato de que, aqui, a nossa familia somos nos e o importante é que nos estejamos juntos. Esse é o verdadeiro espirito de Natal pra mim: lembrar de quem a gente mais ama e ficar muito junto.
Mas as novidades nao acabaram por ai. Perguntamos o que eles iam querer comer, e eu ja calculando onde encomendar o pedido, ja que eu NUNCA pensei em passar o dia todo olhando pra cara de um peru no forno. Esquece! A unica vez que acompanhei alguém fazendo isso, me deprimi. La pelas tantas eu ja tava pensando na familia do peru, nas matanças dos animais, nas energias que isso pode acumular e acabei a noite quase jurando que ano ano seguinte eu viraria vegetariana (so nao virei por causa da picanha sangrenta e gordinha que meu vô me ensinou a adorar...sacanagem...hihihi). Além de tudo, nao sou nada talentosa pra cozinha e faço questao de nao ser. Como eu digo por Rudi, eu ja aprendo muitas coisas, tem algumas que eu simplesmente nao quero aprender. Sai de mim. Até curto cozinhar quando tô afim...mas nao me força. E nao gosto de datas marcadas pra fazer coisas, tipo 'hoje é dia de cozinhar para a familia com sorriso no rosto'...nao consigo. Bom, mas tudo isso pra dizer que, outra vez as crias estavam de pleno acordo...parecia até que ja tinham se combinado. Declararam em coro que queriam comer ...sushi. Nada mais, nada a menos. Putz! 33 anos comedo peru ou porco no baita calorao, pra chegar na neve e comer...sushi. Ta certo. Entao nossa ceia foi sushi, em casa, de pijama, do lado da nossa arvore cheirosissima...entre nos. Tudibom! Sem nenhuma duvida esse foi o melhor Natal da minha vida. Gosto de estar com a familia. Adoro. Mas estar com a minha familiazinha é a melhor coisa do mundo. Sao as pessoas que eu amo acima de tudo, aqueles sobre os quais eu me sinto responsavel, meu porto seguro, como eu disse na dedicatoria da minha tese de mestrado.
A coisa mais dificil do Natal é mesmo comprar os presentes. Ainda mais com a familia longe e que manda grana pras crias comprarem o que quiserem. Eles adoram, mas quem gasta sola de sapato somos nos...Ainda bem que esse ano me depechei e comprei a maioria das coisas antes da loucura furiosa. Alias, as compras também sao sui generis por aqui. Eles vao, escolhem, compram, nos guardamos e so abrimos na noite de Natal. Nunca consegui contar historia de papai noel pra ninguém. Talvez por que eu nunca tenha acreditado (minha mae também nao me contava), nunca consegui transmitir essa ....tradiçao. Eu acredito em Cristo, o cara que nasceu pobrezinho e que nos ensinou (ou pelo menos tentou) que a gente teria que amar o nosso semelhante, de preferência nao sacanea-lo, nao ferrar sua paciência, respeitar seu espaço....amar. Quer seja branco, preto, amarelo, use véu, turbante, fume cachimbo ou pot...a gente teria que respeitar e perdoar e tentar amar. Negocio de velhinho gordo, em cima de umas renas, carregando presentes pelo céu, nunca fez a minha cabeça.
Lembro que quando eu era criança, nao entendia como os outros podiam acreditar nisso. Um velhinho gordo, com uma pacote enorme de presentes, puxado por umas pobres renas...puta sacanagem! Obviamente eu e meu irmao eramos o terror dos amigos dos meus pai, que pediam poramordavaca pra gente nao contar pros filhos deles que papai noel é uma baquice. A gente bem que tentava, mas acho que acabamos por desfazer algumas fantasias infantis ao longo do caminho. Nossos filhos também foram (e ainda) o terror dos nossos amigos e muitas vezes tivemos que pedir que eles mudasse de assunto quando algum amiguinho dissesse acreditar em papai noel, coelhindo da Pascoa, etc. Nada contra os filminhos tao lindos que eles fazem pro Natal, como o Expresso Polar, por exemplo. A gente vê varias vezes e adora , mas é o que é...fa-ta-si-a...como Simpsons, como ET, como tantos outros. Meus filhos acreditam em pais que se matam de trabalhar o ano todo para poder dar tudo que eles precisam para viver bem, ter acesso a cultura, esporte e diversao. E brinquedos, obvio, por que eu acredito que as melhores fantasias sao aquelas que a gente cria na cabeça da gente, quando estamos sozinhos (ou com amiguinhos) e lemos um livro, inventamos uma historia pras Barbies ou pros bonecos e avioes. Isso pra mim é que é fantasia rica, que precisa ser incentivada. Isso é verdade. Historias prontas, fantasias fabricadas...pra mim nao passam de mentiras. Como eu nao gosto que mintam pra mim, nao minto pros outros. Fim de papo.
Entao esse é meu espirito natalino. Acho que o tempo de Natal serve, acima de tudo, pra gente pensar no quanto nos isolamos e olhamos pro nosso proprio umbigo durante o ano. O quanto ficamos fechadinhos na nossa historinha e, as vezes, pequenos problemas tornam-se enormes, e grandes problemas, incomensuraveis. Quando eu trabalhava pra tentar ajudar as pessoas a sairem de suas depressoes, lembro que uma das estratégias que eu mais gostava era de tentar fazer a criatura olhar além do seu umbigo, quando era o caso, logico. Geralmente quando a gente se da conta do que passa do lado, na rua de cima, no outro bairro, na favela, no hospital e até no cemitério, a gente percebe que tem muita coisa pra fazer, muita gente pra tentar ajudar. A gente se da conta que teria que sair um pouco da casca, ver mais longe, viver mais. Talvez essa seja minha mensagem de Natal, se é que podemos considerar isso uma mensagem. So que hoje eu queria colocar também uma mensagem de um cara bem mais talentoso que eu. Minha mae me deu seu livro quando eu casei, e essa ai é a parte que eu mais gosto. Alias, esse ano nas férias de verao, eu achei em inglês a mesma passagem em uma espécie de paneau oriental para ser colocada na parede. Colocamos na sala e agora leio quase todo o dia. Esse texto exprime exatamente o que eu penso do amor, e como Natal é amor, olha ai e Feliz Natal en retard!

O profeta (Khalil Gibran)

Amai-vos um ao outro, mas nao façais do amor um grilhao:
Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Encheis a taça um do outro, mas nao bebais na mesma taça.
Dai de vosso pao um ao outro, mas nao comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vos estar sozinho,
Assim como as cordas da lira sao separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos coraçoes, mas nao confieis a guarda um do outro.
Pois somente a mao da vida pode conter nossos coraçoes.
E vivei juntos, mas nao vos aconchegueis em demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
E o carvalho e o cipreste nao crescem a sombra um do outro.

Thursday, December 20, 2007

Alguma coisa acontece no meu coraçao

Nao sei o que esta acontecendo comigo. Ja falei isso pra minha mae e pras minhas melhores amigas. Nao sei. Alguma coisa acontece no meu coraçao (e nao tem nada a ver com a esquina das tais avenidas). Se houve um ano em que eu verdadeiramente mudei, pode crer foi 2007. Nao estou me reconhecendo. Ta tudo estranho... e ao mesmo tempo é como se por toda a minha vida eu sempre tivesse procurado este estado de alma que parecia completamente incompativel com aquilo que eu acreditava ser a minha natureza. Parecia... Por que agora nem natureza eu sei se tenho... Nao houve um evento especial 'déclancheur' como a gente diria em francês. Procuro e nao encontro nada. Umas decepçoes aqui e ali, é bem verdade, mas decepçoes a gente tem o tempo todo, especialmente eu que tenho a péssima mania de acreditar demais nas pessoas (que eu vou com a cara, é logico). Nao, nada a ver com alguns seres dignos de pena que passaram pelo nosso caminho. Ai eu penso...Quem sabe foi a saudade, a distancia... nao sei. A unica causa que eu encontro para ter realmente alavancado uma mudança fundamentalmente interior em mim se chama: doutorado. Foi esse o grande fator-novidade na minha vida esse ano. Foi ele que me fez mudar como pessoa... Estranho, né? Mas eu explico.
Sempre fui a mais festeira da turma. Dificilmente negava algum convite pra festa, jantar, bagunça... sempre adorei. Pagode? Tô nessa. Rock and roll, vamo la. Frevo, lambada, forro...até dança em linha eu tava aceitando (e olha que essa é dose...hihi). Parque, praia, montanha, sabado, domingo, feriado. Vamo nois! Sempre fui animada pra tudo, curtidora, pau pra toda obra. E isso nunca me incomodou. Ao contrario. Casei com um cara calmao, hiper na dele, mas que sempre aceitou de bom grado todas as minhas maluquices e até achou graça (ta certo que eu também sempre aceitei os 'retiros surfisticos' que ele me propos...fui de cara alegre e nem dei bola pros borrachudos, baratas voadoras e outros bichinhos simpaticos que ele me fazia encontrar). Pois é... acho que unica pessoa que se incomodou com o meu jeito espoleta de viver como se o mundo fosse acabar amanha, foi o Tuta. Pobre do meu pai. Passou toda a minha adolescência dizendo que eu devia parar quieta, 'ficar um pouco comigo mesma', me descobrir...qua,qua,qua.... E eu la queria me descobrir? Eu tinha tanta coisa mais interesante pra descobrir... eu...eu ia me ter a vida toda pra descobrir. Eu ia me descobrir quando eu ficasse a fim. Tadinho do meu pai. Ele bem que tentou me segurar um pouco, mas é bem como canta a Rita Lee ' Baby, baby, nao adianta chamar, quando alguém esta perdido, procurando se encontrar'. Pois fui, voltei, ri, chorei, me escabelei e ... finalmente acho que esse momento chegou. Acho que chegou o momento que eu meio que vi tudo que precisava tanto ver la fora e tô querendo agora é olhar bem fundo aqui pra dentro.
Tem gente que chega neste momento depois de fazer o caminho de Santigo da Compostela. Nao eu. Eu cheguei por causa de um bendito projeto de doutorado. Da pra enteder? É simples. Existem doutorados e doutorados. Eu podia ter feito qualquer um...mas algo me dizia que um doutorado pra mim ia ser muito mais que uma simples autorizaçao pra colocar um PhD depois do meu nome. Ia ser meu Caminho de Santiago. (ai, ai...que os intelectuais por ai nao leiam essa idéia plebéia e mistica da construçao da ciência...hihihi) O caso é que quando tu pega carona em um projeto de pesquisa maior e faz um projeto engatilhado no trabalho de outras pessoas, tu tem um bom atalho no caminho. E bota bom nisso. Nao quero dizer que quem faça isso trabalha menos...de jeito nenhum. É so diferente. No Brasil, eu fui convidada pra pegar carona...pensei, pensei...nao quis. Me mandei pro outro lao do Planeta pra fazer uma tese numa outra lingua por dois motivos. O primeiro todo mundo ja sabe: é porque eu sou doida. O segundo é ligado ao primeiro, sendo doida, nao gosto de seguir caminhos trilhados e conhecidos. Eu gosto mais de desbravar um pouco. Doido é doido...nao contrariem.
Pois vim. Aqui estou. Tudo aconteceu milhoes de vezes melhor do que eu pensava. Dai...sem seguir o caminho de ninguém, me aventurei eu mesma na minha idéia. Começou assim, pequeninha. Dai um foi gostando aqui, outro apoiando ali, uma bolsinha ganha aqui, outra ali. Ops...Me dei conta que talvez o lance nao fosse tao babaca assim. Ai eu mergulhei mesmo. Comecei a amar o projeto. A melhorar. A pensar meio que o tempo todo (embora no ultimo mês tenha controlado um pouco isso...tava demais). Ai, um dia eu ouvi o Rudi falando com uns amigos sobre mim ( e na minha propria sala!!!hihi) Nossos amigos estavam dizendo que eu era doida (que novidade!), que eu trabalhava muito, que era muito fissurada. O Rudi com aquela calma toda respondeu assim ' Sabe o que é, cara, tem que entender... Trampo pra My, nao é trampo. Trampo pra ela é paixao, é a vida dela, ela ama isso. Tem que dar um desconto'. Achei tao querido ele falar isso. Isso é que é parceiro. Isso é que é amigo. Eu nao sabia que ele pensava isso..assim. Mas foi ouvindo ele dizer que eu me dei conta mesmo que é verdade. É a minha paixao, eu acreditei, eu comecei e agora vou tocando. As vezes me estresso, me canso, preciso de um tempo. Ai eu saio, passo uns dias sem tocar em nada, vou fazer outras coisas. É bom. Mas a maior parte do tempo, esse projeto ocupa mesmo uma boa parte da minha vida.
Ta, mas o que isso tem a ver com a bendita da mudança pessoal? É que, escrever um projeto de doutorado nao é nada de absurdamente dificil, extremamente complexo, que so alguns poucos 'eleitos' podem fazer. Nao é mesmo. Se fosse, nao teria tanta anta com doutorado. Mas tudo depende de como tu quer fazer o lance. Se quiser fazer nas coxas, da. Mas se quiser fazer bem...ai tem que se puxar. E nao falo nem da exigencia externa. Claro que existe também. Mas o caso é que quanto mais a gente lê, quanto mais a gente estuda, mais a gente vê que a gente nao sabe nada, que tal coisa podia ser feita de forma diferente, que sei la se assim é melhor. Tudo isso pra chegar em um ponto onde finalmente a gente diz: 'Caramba, deu, Nao mudo mais nada. Chega! Ja pensei, discuti, repensei. Agora vai ser assim por que eu acho melhor, por essa, essa e mais essa razao. Vai ser assim por que é o MEU projeto, por que EU inventei e porque EU QUERO'. hihihi Simples, né?
Mas ainda nao cheguei nese ponto. Tenho até fevereiro pra chegar. O caso é que, uma hora tu tem que ter o projeto, tu tem que apresenta-lo, defende-lo, convencer os outros. Depois a gente continua pirando nas analises e tal. Mas o projeto é algo que vai te servir como base pro trabalho. Se for uma base meio podre, azar o teu. No momento eu ainda tô melhorando daqui e dali. Eu sei que ele é legal, mas pode ficar mais. Vou ajeitando, ainda mudando, deixando ele um pouco com a minha cara, que embora nao seja a mais bonita é a unica que eu tenho, e nesse tempo de doutorados acontecendo pelo mundo todo, a originalidade é a unica 'garantia' que a gente tem que antes de tu terminar a obra, algum heroi na pqp vai publicar uma tese parecida.
Entao esse ultimos meses eu passei muito tempo sozinha. nem trabalhar no meu bureau na universidade eu ia (quando nao tinha uma razao muuuittto especial). Arrumei meu escritorio aqui (carinhosamente apelidado de 'a catacumba da mae' por ser numa especie de subsolo), organisei minha papelada, comprei 4 tipos diferentes de chas, duas caixas de chiclé (quem nao fuma, acaba fazendo outra coisa pra ocupar a boca enquanto pensa...), mais memoria pro computador, uma cadeira de ler, luzes, papel e tinta de impressora e mergulhei. As vezes passo uma semana sem ver ninguém (a nao ser a familia e as gurias da ginastica - nunca pensei além de tudo virar uma hipopotama).
E assim passaram-se os ulimos quatro meses. So ia mesmo pra uni quando tinha aula, reuniao, ou algum trabalho que nao dava pra fazer daqui. Fiquei sozinha. Eu, meus pepéis, meu computador. Incrivel o efeito que isso teve. Sim, o projeto avançou...mas como eu dizia...isso tudo mudou aquilo que eu conhecia de mim mesma. De tao 'encatacumbada' que eu fiquei, minha festeirice desapareceu. Perdi a vontade. Muito louco. Continuo recebendo convites pra festas e tal. Nao fico afim. Muito estranho, muito estranho. Acho estranho, mas nao vou contra a minha 'atual natureza'. Nao tô afim, nao vou. E nao dou desculpas. É so...puxa desculpa mesmo, nao tô afim. Os meses foram se passando e eu sem ficar afim.
De tao esquisito que achei, e como boa psicolouca que sou, resolvi me diagnosticar. Pensei bastante se eu estaria em depressao, mas essa idéia logo se foi. Percebi que continuo saindo, gostando de passear e de ver gente, de estar com os meus amigos de verdade. Estou gostando de ficar com pouca gente, sem muito barulho, sem estresse, com uma garrafa de vinho, uns trocinhos pra comer e um bom papo. Tô gostando de curtir a minha casinha (nao so a minha catacumba). Adoro receber meus amigos, os amigos das crianças. Mas nao me chame pra arrasta-pé de nenhuma origem étnico-cultural. Nao me chame pra 'turmas', 'grupos' ou o que quer que seja que implique mais que 4 pessoas. Nao me chame pra festanças. Xiiii...essa ai sou eu?
É estranho, eu sei, mas é assim. Precisei de um projeto de doutorado, muitos papéis, idéias e uma cabeça girando a 100 mil por hora pra me dar conta. O ciclo de festanças acabou. Papinhos nada a ver pra 'manter as relaçoes' também. Sem saco. O ciclo social acabou. Minha mae diz que eu 'amadureci'. Nao acho. Envelheci, talvez (bem provavelmente hihi). Mas o caso é que desisti de entender. Acho que finalmente estou fazendo o que o Tuta tanto queria: 'ficando comigo'. A boa noticia é que eu tô descobrindo aqui dentro uma baita companheira. E tô descobrindo que nada como o silêncio pra deixar as palavras chegarem. Nada como o silêncio pra ouvir o essencial.
Ai... So espero que eu nao esteja me transformando numa nerd.....hihihih

Tuesday, December 11, 2007

MERCI MAMAN !!!!!!!!

Mae é mae, paca é paca, dizia aquela véia musica. So mae mesmo pra aconchegar o coraçao da gente mesmo estando tao, tao, longe! Merci maman!!!! Hoje chegou mais um pacote surpresa do Brasil. Por absoluto milagre o carteiro consegui vencer toda a neve na frente da nossa casa e chegou aqui enquanto o Rudi ainda estava em casa. Aleluia imaos!!!! Toda vez que a minha mae manda alguma coisa a gente acaba tendo que ir buscar no correio porque o carteiro veio, nao tinha ninguém e deixou um bilhetinho. Nao que isso nos incomode, mas receber em casa na maozinha tem outro gostinho. Aqui hoje foi dia de festa!

Eu tao feliz, tao feliz, que pulei!!! Da um look no nosso pinheirinho natural de Natal. A casa fica com um cehirinho maravilhoso e eu ainda pude vivenciar um pouco uma velha fantasia de infância...É que eu adorava as revistinhas da Luluzinha e na época de Natal sempre tinha umas historinhas onde ela e seu pai iam buscar o pinheirinho de Natal e saiam puxando a arvore pela neve. Eu achava isso lindo de morrer e pensava que um dia eu também ia passar o Natal olhando a neve la fora. Bom..acho que esse dia vai chegar em breve, ja que ano passado nao valeu. Natal verde...Arghs!

O Pedro realizado com sua camisa do Internacional hexa-campeao...com as benditas seis estrelas. Tudo que ele queria!

A Giu com a camiseta e a jaquetinha jeans que a Vava mandou. A jaqueta ela guardou pra amanha, mas a camiseta nao teve jeito.... Ela ta dormindo com ela esa noite...cheirinho de Vava, diz ela! Saudade!

Olha so a minha alegria de ter recebido nao uma, nem duas, nem três, mas QUATRO latas de Leite Moça!!! Uhhhuuuu galera! Ainda por cima amanha trabalho em casa. ... Quer dizer que quinta vou ter que colocar uma ginastica urgente neste corpo...Pas de trouble! Tô feliz!

Bom, a quem interessar possa esse pacote sou eu.... Na fente do hotel que acolheu nosso coloquio cientifico do ano. É so um presentinho pra minha mae que ainda nao tinha me visto, literalmente, abaixo de neve. Me voila!





Atualisando as fotos

Faz tanto tempo que nao tenho tido saco de colocar fotos...ai,ai...Mas com o encorajamento crescente dos meus amados comentadores nos ultimos posts me forcei um pouquinho...
Essa foi uma aula de Body Flow que a minha professora fez especialmente para maes e filhas. Claro que nos nao perdemos essa. Body Flow é uma aula deliciosa que quem nao conhece pensa que é facil...mas quando vai fazer...ui! Trata-se de uma mistura de yoga, tai-chi e pilates. A gente sai calminha, calminha!
Como eu dizia nossas fotos tao mesmo atrasadas....Ou sera que eu tô colocando de novo? Sei
la... Se tô repetindo, nao olhem, ta? Essa ai é uma parte da nossa turminha que saiu para buscar balas no Halloween. Aqui em Laval nao acontece muita coisa e pra quem em filhos acaba sendo mais pratico sair de carro, e ai perde um pouco a graça de andar pra um lado e pra outro. Por isso nos mandamos pro Plateau. O unico problema é que fica com balas e bombons suficientes pra um ano. Ou seja, uma hora a gente tem que esconder.Essa ai é uma invençao bem québécoise eu acho. Popularmente chamado 'Tempo' este barraco branco é a alegoria mais bagaceira e horrenda nessa terras gélidas. Eta troço horriver! O problema é que o que tem de feio, tem de util. Graças a ele a gente nao precisa tirar o gelo e a neve do carro cada vez que vai sair de casa e... acreditem...so quem ja passou um inverno inteiro espanando o carro e congelando os dedos, é paz de amar um 'Tempo' com toda a sua feiura. Quando chegamos aqui jurei que nunca colocaria um barracao dos sem-terra destes na frente da minha casa, mas...passado um inverninho ' I love you, Tempo'. Nessa foto o Rudi e o Denis, nosso amigo québécois especialista na montagem, em açao. Eles tiveram um certo trabalho ja que o nosso Tempo 'veio de gratis' na casa e era um tanto...disons...home made...hihihi
A ' coisa linda' terminada. Nossa pobre casinha perdeu um pouquinho de seu charme, mas nao tem pobrema minha gente!!!! O bom é nao ter que dénéiger!
E pra quem pensava que ele ia desistir logo que a temperatura chegasse a 3 graus C positivos...tai a prova que eu casei com um Homem e nao com uma Rapadura! Essa foto mostra as roupas de borracha no nosso varal. Ele saiu de manha quando fazia menos 5 e voltou ao meio-dia fazendo mais ou menos zero. Cinco minutos depois de estendidas as roupinhas estavam congeladinhas.... Assim..nessa bela tarde de outono québécois, meu querido marido deu definitivamente por encerrada a temporada de surf de 2007 no Saint Laurent (ou seja, na pororoca). Sinceramente..a mim essa decisao alivia. Tudo o que eu nao quero é ter que correr com um senhor surfista com sintomas de pneumonia pra alguma emergência daqui.... Da um tempo! Meu amado principe no seu primeiro campeonato de judo no Québec. O gostosao ficou em segundo lugar...so porque torceu o pé, me disse ele. Sao bem sortudos esses québécois! Essa foto foi antes do pequeno incidente que nos levou diretamente para o hospital Sainte Justine. Bom...nem tudo é perfeito (so ele...hihihihi)

Sunday, December 02, 2007

O problema é o amor

Tem dias que a noite é foda, diz aquela musica.E tem semanas que os dias sao foda também. Desculpem o palavreado 'chulo' (como diria o Tuta), mas tem horas que so as palavras de 'baixo calao' conseguem expressar os sentimentos da criatura. Eta semaninha!
Segunda me levanto as cinco, como sempre. Adianto minhas leituras, tomo meu café sossegada, organizo a semana. Repito: or-ga-ni-zo a se-ma-na... pretensao tua minha filha. Mas até ai eu ainda nao sabia o que aguardava. Saimos juntos e eu bem feliz da vida pisando naquela nojeira de slush por tudo e tentando, de preferência, nao cair de bunda e quebrar... a bacia. Pois é, tem gente que toma cuidado pra ver se nao se machuca e se nao precisa inflar ainda mais o serviço de saude, ja atrolhado deste Québec de meu Deus. Pois é...tem gente...
Chego no bureau bem satisfeita, ta vazio, bem tranquilinho pra trabalhar naquela segunda-feira. Nao sei bem por onde começar, mas como estou com a pilha toda, começo por aquelas coisas que preciso estar em contato com as secretarias e outras pessoas. Corro pra la e pra ca pelo corredor. A semana tem cheiro de que vai render. Ja fico prevendo tudo que vou poder adiantar antes da semaine de relâche do Natal, onde quero fazer algumas atividades especiais com as crias.
Onze e meia. Toca o telefone. Ouço a voz da secretaria da escola. Meu coraçao bate forte. A mulher se esforça pra nao me desesperar, o que ela nao sabe é que eu ja SOU deseperada de natureza e quando imagino que pode ter acontecido alguma coisa, qualquer coisa com os rebentos...bom...acho que enlouqueço. Ela me explica que o Pedro caiu no gelo do patio e levou um chute no nariz. O nariz dele (que diga-se de passagem é perfeito e é uma das obras-primas feitas pelo meus gens...sorry Rudi...esse é meu...hihi) esta, segundo ela, inchado, sangrou um pouquinho e ele esta com muita dor. Quase sem voz e tentando conjugar meus conditionnels e subjonctifs da melhor forma possivel, pergunto pra ela se nao seria o caso de leva-lo imediatamente pro hospital que eu os encontraria la. Ela diz que acha que nao é tao serio, mas talvez fosse uma boa idéia ir na clinica e tirar uma radiografia. Desligo o telefone e saio fechando meu computador e toda a esperança de adiantar um pouco meu trabalho. Pego todos meus casacos, toca, cachecol enquanto vou explicando pra nossa assistente de pesquisa o que aconteceu. Ela se mostra compassiva com a minha situaçao e diz que eu va tranquila e que tente nao escorregar e me quebrar também. Tento sorrir e saio me despencando ladeira abaixo até a estaçao de metro, mas nao sem antes me despedir da Marie dizendo '...Alors, n'oublies pas le capote..' (Entao... nao esquece a camisinha)... Humor acido.
No metro, enquanto me pergunto qual deve ser a velocidade prevista pra um metro nesta hora do dia, e porque tenho sensaçao de estar numa carroça véia, vou tentando me lembrar das minhas aulas de neuroanatomia na faculdade. Tentava me lembrar dos cadaveres que a gente cortava e localizar onde é que o nariz encontra o sistema nervoso central e quais podem ser as consequencias de um nariz quebrado. Fico pensando se nariz é alguma coisa que a gente engessa. Nao me lembro de ter visto alguém com o nariz engessado (coisa de louca).
Uma hora depois estou com o Pedro na clinica. Meu desespero ja passou um pouco. Ele ta meio abatido mas parece bem. O nariz lindo e maravilhoso continua perfeito, embora um pouco inchado e arranhado. Esperamos duas horas. Ele tem fome e sono. O nariz nao ta mais doendo e acho que até eu tô meio zonza de toda a descarga de adrenalina que sofri. Ainda faltam 46 pessoas serem atendidas antes de nos. O serviço da clinica naquele dia ta mais lento que de costume. Digo pra ele que a gente podia ir pra casa e voltar umas três horas depois, ja que moramos pertinho. Ele concorda. Nos mandamos com o nosso numero na mao. Vindo pra casa pergunto pra ele, como foi que ele caiu. O fofo, todo orgulhoso, fala: 'Mas eu nao cai mae...ja te disse que eu nao cai'. E eu: 'Entao, daria pra tu me explicar o que é que tu estava fazeno no chao do patio, deitado no gelo, na hora do recreio?'. E ele: 'Simples, eu tava brincando de me glisser (escorregar),e ai um guri doido que tava correndo, sem querer chutou meu nariz.'
Respiro fundo. Conto até dez. Lembro de todas as técnicas de relaxamento que conheço. Nao se enerve, nao se enerve...da rugas! Mas nao aguento... Dou uma longa explicaçao do PORQUE nao é uma boa idéia se escorregar deitado no meio do recreio, que graças ao meu Bom Deus foi so um chute no nariz que ele ganhou, que podia ser muito mais grave, que poramordavacajérsey ele nunca mais faça isso, pergunto se ele quer matar a mae dele do coraçao (essa faz parte do teatro dramatico aprendido com a minha mae), peço que faça o favor de se cuidar pra nao se machucar e acabo o sermao com uma palestra sobre o sistema de saude do Québec.
Chego em casa e caio no choro. Nao tem nada pior que ver o bebezinho da gente com dor...mesmo...mesmo...se foi o que-ri-do be-be-zi-nho que teve a brilhante idéia de se deitar no gelo pra levar um chute no nariz. Resumo da segunda-feira: meia duzia de cabelos brancos a mais e algumas ruginhas no meio da testa, pouca coisa feita, algumas lagrimas de mae desperada (e depois aliviada) e mil rezas de graças a Deus.
Terça, quarta e quinta tudo se passa relativamente bem. Quinta vou buscar os boletins e devo dizer que ganhei meu presene de Natal adiantado. Os dois estao hiper bem. Desculpei de vez o Pedro pelo...digamos...pequeno 'deslize'.
Tudo parecia se encaminhar para um fim-de-semana normalzinho, calminho, faxininha e coisinhas basicazinhas. Sabado de manha o Pedro (ele de novo) teve se primeiro campeonato de judo aqui. Ele é realmente muito talentoso e adora esses lances de competiçao. Competir nao é muito a minha tripe, sempre fico nervosa (coisa rara) e geralmente tento deixar esse setor sobre a coordenaçao do progenitor do menino. Entao sairam eles prum lado e elas pro outro, ja que a Giu tinha ballet e esse...bom... esse setor é mesmo meu. Encontramos umas amigas, magazinamos, ela fez sua aula de ballet e estavamos prontas para um almoço de 'filles' (minha amiga e sua filha estavam conosco) em um restaurante de sushi maravilhoso. Pois é...estavamos prontas... Quando o celular toca e o senhor Rudi me informa com uma voz um tanto...vacilante...que o querido filho provavelmente quebrou o dedo do pé lutando. Nao consigo acreditar. Ele explica que o Pedro foi muito bem no campeonato, que provavelmente va ficar em seundo lugar, mas que quando estava pra derrubar o guri maior que ele, os dois...voyons...cairam em cima do dedinho dele. Pergunto se ele ta bem e combinamos de nos encotrar no Hospital Sainte Justine (que é especializado em pediatria em Montréal...alias o atendimento é barbaro e aconselho muito pra quem tem crianças fazer uma carteirinha la). Toca a Mylène pro hospital de novo. Segunda vez na semana, segunda possibilidade de fratura, no mesmo filho. Vou reclamando a minha sorte e ao mesmo tempo agradecendo que nada é grave. Reclamo, agradeço, reclamo, agradeço. So sendo Deus mesmo pra me aturar. Chegamos no hospital e em seguida chegam os dois...com cara de cachorro de fez pipi na sala. Como o Pedro ja imaginava, saio eu desabalada, correndo com uma cadeira de rodas no meio da neve. Cena digna de um filme. Ele vem com aquela cara deslavada...pobrezinho...hhihih Nao acho que tenha muito problema no dedo, mas como ele diz que ta doendo mmmuuiiittoooo... ficamos esperando atendimento. Esperando e esperando. Ainda por cima o menino resolve reclamar do tempo espera. Recebe novo sermao sobre o sistema de saude do Québec e novas instruçoes para nao se quebrar e...é claro... ouve aquela maxima 'quem ta na chuva é pra se molhar'. Quer competir? Te prepara meu, filho...é isso ai. Pior pra mim que destesto competiçoes e tô aqui de todo jeito. Finalmente, duas horas e pouco depois (baixissimo tempo de espera para um hospital québecois) o médico examina o rebento,diz que mesmo que quebrou nao ha nada a fazer, mas que parece nao estar quebrado. Examina também o nariz. Sei la o que o médico pensa de um filho que se quase-quebra duas vezes na mesma semana. Preencho o relatorio do acidente. Espero que a DPJ nao me ligue pra tirar satisfaçoes ja que a criatura nao tinha nenhum equipamento de proteçao. Esse éum dos itens do relatorio, se a criança estava fazendo esportes, se eram atividades formais ou informais, e se estava com o equipamento de proteçao. No caso, judo...nao tem nenhum equipamento de proteçao. Quer dizer...nao tinha...por que eu tô pensando seriamente em lançar um escafandro de proteçao pra esse guri.
Voltando pra casa, quase nove horas da noite, olho pra carinha dele no banco de tras. Ta faceiro. Sua performance foi muito elogiada no campeonato. Seu dedo quase nao doi mais. Ele ta voltando pra casa com a familia feliz. Fico tentando me lembrar por que decidi ser mae. Nao é que eu lamente, mas ca entre nos, nao deve ser uma decisao muito racional essa. Na real, se as pessoas realmente pensassem antes de fazer um filho, a humanidade ja teria acabado. Nas minhas divagaçoes entre Outremont e Laval, chego a conclusao que a gente tem filhos por que, antes de tê-los nao tem como imaginar o que seja isso. Nao adianta, nao-tem-co-mo-i-ma-gi-nar. Quando eles existem, tudo muda dentro da gente. A gente se da conta que pode amar infinitamente, mais (muito, muito, muito mais) do que absolutamente tudo e todos que a gente conhecia antes. O problema é esse amor infinito e o medo que vem com ele. O medo de perder, de machucar, de preudicar, de nao ser bom o suficiente. O medo de ficar longe, de ver sofrer, de fazer sofrer. Um medao e um amorzao. Ser mae é mesmo o melhor trabalho do mundo e, de longe, o mais dificil. Fiquei olhando praquele menininho de 10 anos, sentando no banco do carro, sorrindo ao se lembrar que semana que vem o sensei vai lhe entregar a sua medalha e me lembrei da primeira vez que ouvi o coraçaozinho dele dentro da minha barriga. Lembrei da fotinho da primeira ecografia onde ele media '1.8 cm cabeça-nadega'. Agradeci que nao foi nada grave e resolvi parar de me lamentar pelo sabado derramado.
Antes de dormir abracei ele forte e pedi serenamente: ' Agora vê se me da um tempo e para de te machucar, ta? Se der...'