Wednesday, June 28, 2006

Quatro meses

E o tempo está passando...Completamos quatro meses essa semana e comemoramos indo conhecer Oka, uma das praias mais proximas de Montreal. Praia de lago, bem entendido! A praia fica no "meio do mato", ou seja, é dentro de um parque muito lindo e muito verde. Tudo muito organizado e limpo. O mais engraçado é observar o comportamento do povo na beira da praia. Todo mundo organiza seu lixo, deixando na lixeira correta (plásticos, papéis e outros) quando vão embora. No entanto, a essencia farofeira do quebecois é evidente. Eles adoram levar "a casa"pra beira da praia, que por sinal já é equipada com mesas de pic-nic por todo o lado. Eles fazem verdadeiros banquetes. Levam churrasqueiras portáteis, cadeiras, colchões infláveis, pratos e talheres, copos (plásticos, por que nenhum vidro é aceito na beira da praia), toalha de mesa e, claro, caixas térmicas com muito gelo, comida e cerveja. Em uma parte da praia é tolerado o nudismo. Não entendemos muito bem o que isso significava e fomos caminhando, explorando... Eu imaginava que, em algum ponto, teria uma placa, como nas praias de nudismo do nordeste, dizendo tipo: "A partir daqui, só pelados!". Que nada! Quando passamos por um espaço mais vazio, começamos a ver a galera pelada. Tipo convivencia normal, quem quer tirar a roupa tira, quem não quer fica na boa. As crianças não estavam muito bem preparadas e começaram a ter pequenos ataques de riso...tivemos que voltar. Depois de algum tempo, entendemos por que eles levam tanta coisa pra praia: um cachorro-quente custa C$4.50... sem condições! A próxima vez, vamos de farofagem também. Mas como diz o Rudi: tem que ser um farofeiro bem equipado e organizado, como eles são. Estamos nos preparando. A água do lago é marrom, mas limpa. Tu caminhas um monte e a água ainda bate na cintura. Aliás, quando a água bate na cintura de alguém da minha altura (1.63), já tem bóias avisando que não se pode passar dali. E pra quem se aventura, os salva-vidas (tem um a cada 30m) apitam, falam no mega-fone... é um escandalo! Pelo menos, ninguém deve morrer afogado ali, só mesmo se estiver muito "louco" e ainda assim, se os salva-vidas não perceberem o perigo. Na saída fomos conhecer o camping, que é dentro do mesmo parque. Muito legal! Matão mesmo, mas com banheiros bem limpos, onde se paga 0.25 por um banho (não sei ainda quanto tempo dura), com pia pra lavar louça, mesa de pic-nic em cada recanto e um buraco com grelha, tipo pequena churrasqueira. Adoramos e não vemos a hora de ir pra ficar. A única coisa que me assustou foi uma cobrinha que eu vi entre os arbustos perto da praia. Eu tenho pa-vor de cobra e logo sai correndo. O Rudi me advertiu que camping no mato "tem destas coisas". Pra não me desanimar, eu disse que no camping mesmo"não ia ter"... foi gargalhada geral! Como aqui, em tudo o que é canto que tu vais te entregam algum tipo de "Manual da convivencia pacífica"ou "Carta de direitos e deveres", ele me disse que, certamente, eles entregavam um destes manuais para as cobras, afim de que elas não assustassem os pobres campistas pouca-prática como eu. É bem palhaço esse guri! Assim, comemoramos nossos quatro meses. Nossa vida toma mais forma a cada dia. Não tenho mais taquicardia quando toca o telefone, nem tremores quando sei que vou ter que falar com alguém em frances. Acho que estou mais a laise com a lingua, as pessoas não fazem tantas caras de "não entendi"quando eu falo. Inclusive consigo manter conversas bem longas e divertidas... Ainda não tá muito do meu gosto, mas por enquanto é isso.Estamos fazendo bons laços de amizade e isso é muito importante. Daqui há precisamente um mes, meus pais estarão chegando aqui e estamos bem faceiros. Além de sua presença, eles estarão trazendo um pequeno estoque de "marisqueira", que é uma cachaça feita com canela que a gente só encontra em Torres (RS). É muito muito boa, e certamente vai animar nossas festas brasileiras até começar o inverno. Por outro lado, esses dias tive um "pequeno ataque de saudade" das minhas amiguinhas. Fiquei triste que só... Depois de um tempo macambúzia, lavei o rosto, comi um chocolate e fui ler meus lances. A vida continua. Cris e Re: eu amo muito voces! Como diz a Letícia (uma amiga daqui): quem inventou a distancia, não sabia que existia a saudade!

Wednesday, June 21, 2006

Loucurada

Entenderam agora, o que eu dizia? Foi festa e festa! Aqui apenas uma das "voitures": nosso amigo alemão, Michel, eu, sua esposa brazuca Marines e a Helo. Claro que as fotos são do Andre. Encore une fois: merci!

Tuesday, June 20, 2006

Francisandos

Nossa turma no College Montmorency. Inventei um chá-de-fraldas para uma colega chinesa que descobriu que estava grávida. Nesta foto estamos lanchando juntos. O primeiro do lado esquerdo é nosso professor (bielo) russo.

Nossa turma de aprendizes de francisados. Todo mundo muito legal!
O Rudi e as crias em um passeio no Parc Jean Drappeau. Atrás é a famosa Biosphere de Montreal.

Show da escola


O show! Vai dizer que não lembra os filmes norte-americanos? A Giu tá de saia a direita e o Pedro no meio de camiseta branca.
Giulia e suas amigas do oriente médio. Muito lindo como elas se protegem!
Pedro e um de seus melhores amigos. Sociedade multi-cultural!
Voltando pra casa no bumba. O Pedro arrasando o coração de uma pequena colombiana.

Copa do Mundo

Futebol nunca foi muito o meu forte. Mal sei o nome dos jogadores e em relação ao treinador, as vezes ainda me engano. Quando éramos recém-casados, na copa de 94, coloquei o Rudi em apuros quando fomos assistir a final da Copa com um casal de amigos. Eu que devia estar de mal-humor (ocasiões em que eu mesma tenho sérias dificuldades para me aguentar), ficava só torcendo pelo outro time (acho que era a Itália). O pobre do Rudi queria me matar... Depois disso, nunca mais torci por ninguém no futebol (apesar de ser fã do Zidane). Mas confesso pra voces que, estando aqui, é inevitável. Ainda mais eu, que sou festeira que só, torcer pelo Brasil na Copa é mais do que uma boa razão pra festejar. Pois bem... Fomos convidados para assistir o jogo na casa de uns amigos em Lachine. A casa era maravilhosa com piscina e tudo o mais... Um casal brasileira-alemão, muito especial! É claro que tinha muita gente, criançada, comelança (até macaxeira frita, acreditam?) e cervejada também. No intervalo do jogo (depois daquele primeiro tempo triste), era sambão e dá-lhe festa. Tipo: se ganhar, ganhou, se não... pelo menos a gente aproveitou! O mulherio não viu nada... minto... quando eles gritavam "Gol" a gente corria pra ver o replay (entendi por que eles repetem tantas vezes os gols - é pras tia Maria que ficam na cozinha!). Bom, quando o jogo acabou os mais calmos (estilo Rudi) ficaram com as crianças na piscina e o resto saiu em carreata por Lachine e por Montreal. Saímos em quatro carros, mas chegamos a ser seis lá pelas tantas (não me perguntem quem estava nos outros dois... se juntaram a nós...). Era samba a milhão, bandeiras pra fora, gritaria. Voces pensam que pagamos mico? Que nada! O pessoal adorou! Passamos por todo o Quartier Latin e por quase toda a Ste. Catherine, Boul. Rene Levesque... Todo mundo na rua (fazia um calorão) batia palmas, ria, cantava junto... Muito engraçado! Nunca esperei por isso. Paramos na frente de uns bares e saimos dançando (estou aproveitando pra me especializar em samba de asfalto). De repente apareceram umas criaturas, vindas não sei de onde, com pandeiro e chique-chique. Detalhe: não eram brasileiros, eram haitianos que torcem pelo Brasil e quiseram se juntar a a nós. Uma hora, o transito estava parado na Ste. Catherine e eu sai com o corpo pra fora da janela do carro, abanando a bandeira pra falar com um amigo que estava no carro de tras... Sem esperar, dois ou tres turistas (ou sei lá o que), mandaram ver nos flashes, bem pertinho de nós. Claro que me senti uma celebridade...heheheh Ah! Como a gente queria essas fotos, devem ter ficado muito legais, por que eles sairam dizendo "Ei! Thank you!". Ou seja... farofa total!Pena que perdi minha bandeira (aquela que estou segurando na foto da feijoada) em plena auto-route... Vou ter que me descolar outra. E minha mãe me contou que em Porto Alegre, pelo menos na beira do rio em Ipanema, estava tudo calmo e morto depois do jogo. Vai ver que era por isso que eu não me animava pra torcer lá. Depois de tudo, voltamos pra Lachine e continuamos a comer e beber. Segunda-feira era eu com dor pelo corpo todo... mas bem feliz de ter aproveitado esse momento. É engraçado, mas depois de um tempo longe do país da gente, é muito bom estar com pessoas queridas, sentir o sol, o gosto da macaxeira frita, da Brahma, o Olodum... tudo que lembra o nosso pais. É quase que um reencontro com a gente mesmo, com um pedacinho que fica lá dentro, intacto. Descobri que minha brasilidade tem muito mais a ver com meu lado nordestino (de mãe) do que gaúcho (de pai), por que tudo que eu sinto saudade em primeiro lugar, são as experiencias ligadas ao sol do nordeste e ao carinho das pessoas de lá. Mas é bem verdade que também não largo meu chimarrão (nem pensar). Mas é estranho como o distanciamento nos ajuda a mergulhar na nossa essencia.... acho que a minha é indígena!

Fim de ano

Nossa, como fiquei tempo sem escrever... Falta de tempo, de inspiração, preguiça, tudo ao mesmo tempo. Mas hoje estou animada e devo colocar o assunto em dia. Essa é a última semana de aula das crianças, ou seja, fim de ano escolar. É muito esquisito esse primeiro ano aqui. A gente acabou de vivenciar um período de férias "grandes"e já vem outro. Além disso, a vida tem outra velocidade aqui no verão. Parece que dá um comichão na galera e todo o mundo quer sair de casa, ficar no sol, correr e fazer tudo na rua, o máximo possível. Chega a ser engraçado, mas a gente acaba contagiado também. Bom, mas voltando ao fim de ano escolar... Semana passada tivemos um espetáculo musical na escola das crianças. eles cantaram com o professor de música "Ça fait rire les oiseaux", coisa mais querida do mundo. Em seguida devemos postar as fotos deste evento inesquecível. O Pedro todo desinibido dançando e cantando bem alto, a Giulia também. Dava pra perceber que eles sabiam direitinho a letra (bom a essas alturas até eu sabia, com tanto treino em casa...). Eles ficam realmente muito motivados e contaminados pela paixão que o professor demonstra pela música. É realmente emocionante! E como sempre, o que eu mais adoro: aquele monte de gente de tudo que é cor, vestimenta, lingua materna, hábito... que se possa imaginar. O interessante é ver a turminha do accueil junta. Apesar de se comunicarem basicamente em frances (uma língua que acabam de ter contato), eles formam frases inteiras e são capazes de expressar o carinho que sentem um pelos outros. Eles se encontram e se grudam... Dão muita risada (nem sempre a gente entende de que), tiram sarro uns da cara dos outros, enfim... são amigos. Eles desenvolvem uma relação de cumplicidade muito legal entre eles. Será que existe uma habilidade mais importante que essa quando nos encontramos em ambientes que não nos são familiares? Particularmente, acho que não. É claro que chorei rios... Fora isso, tem as professoras, que eu já disse que são tudo de bom. Mas o que eu tenho pra contar agora é que, essa não é mais uma opinião pessoal apenas. Elas ganharam um premio oferecido pela Comissão Escolar de Laval "Prix de la reconnaissance 2005-2006" no quesito adaptação escolar. Mais do que merecido! Elas botam qualquer um no chinelo, sem exagero! Fiquei muito feliz e, como sempre, agradeci muito a elas. Não há nada que faça uma mãe (especialmente uma mãe imigrante) mais feliz do que alguém que trate de seus filhos com respeito e carinho e ainda os ajude a gostar da nova pátria. O papel delas é essencial, afinal não podemos esquecer que são, geralmente, os primeiros seres canadenses com os quais os nossos filhos estabelecem uma relação. Se essa relação é positiva... é tudo de bom! Pra terminar esse primeiro post de hoje, coloco aqui o refrão da música quebecoise que eles cantaram...

Ça fait rire les oiseaux (La Compagnie Créole)

Ça fait rire les oiseaux
Ça fait chanter les abeilles
Ça chasse les nuages
Et fait briller le soleil
Ça fait rire les oiseaux
Et danser les écureuils
Ça rajoute des coleurs
Aux couleurs de l'arc-en-ciel
Ça fait rire les oiseaux
Oh,Oh,Oh rire les oiseaux

Tuesday, June 06, 2006

Mais uma minha!

Nosso amigo quebecois mandou mais uma minha...Merci bien Andre tu es vraiment tres gentil!

Se meu pai passasse na St. Dennis trocava de lado na rua e fazia de conta que nem conhecia a louca. Ele detesta brasileiro escandaloso... São as ironias do destino! hehehe

Sunday, June 04, 2006

Feijoada da Copa

Hoje fomos a feijoada promovida pela Rádio Centre Ville em um restaurante brasileiro na St. Dnnis em Montreal. Como sempre, o melhor de tudo é rever os amigos e fazer novos. Isso estava uma delícia. A outra novidade é que achamos uma promoção e compramos (finalmente!) a nossa máquina digital, por isso as fotos abaixo já são creditadas ao meu gato. Meus sapatos de salto alto passearam, pela primeira vez, no Canadá, afinal eu precisava estar paramentada para sambar... Mas devo dizer que, com essa função de bumba e metro, eles vão passar um longo tempo sem sair do armário de novo. No mais estamos nos preparando para receber meus pais que vem no dia 28/07. Ontem já fomos fazer algumas comprinhas de coisas para a casa, talheres por exemplo, que iriam fazer uma certa falta... Estamos super animados de te-los aqui, até por que vamos matar a saudade e comer a comidinha de mamãe... Mal sabe ela que eu estou começando a estocar ingredientes para guardar, muita (MUITA!) coisa congelada quando ela se for. Acho que filhos são sepre um pouquinho exploradores, né? A partir de agora estamos em contagem regressiva para ter a casa cheia de gente! Viva! Agora ou me deitar por que amanhã é segunda e essa semana vai ser 10! Ótima semana pra todos nós!















A Giulia tomando um guaraná nada "típico", mas tudo bem, foi o primeiro que encontramos aqui.




















Hamilton e eu. Nosso amigo mais popular no Québec, ainda vai ser primeiro ministro, escrevam isso!

















Giulia e eu entre nossos amigos, um brasileiro (Hamilton) e um quebecois (Andre). Nós amamos eles!
















O Pedro e seu novo amigo Olivier. Observem o novo corte de cabelo do Pedro. Todo mundo tem que admitir que ele é a cara do Anakyn Skywalker (embora eu o ache muito mais bonito!).

Abaixo eu, colocando pra fora minha paixão pelo Brasil e pelo Québec. Depois sambando no meio da St. Dennis - acabamos virando ponto turístico!


Friday, June 02, 2006

Alegría

"Alegría" é o nome do espetáculo do cirque du Soleil que assistimos no DVD da aula hoje. Achei que este título tinha tudo a ver com o post que vou escrever por que vou falar do famoso curso oficial de francisação para imigrantes, conhecido carinhosamente por "COFI". A previsão que o Ministério nos deu foi a de que seríamos chamados para as turmas de agosto, mas houveram algumas desistencias e nos chamaram agora. Fomos colocados, ambos, no nível 3 ( e último, depois dele só tem o frances escrito). O pobrezinho do Rudi, agora que está entendendo a diferença do Passé Composé e do Imparfait, mas já colocaram no último nível. Eles nem queriam me dar este curso, queriam me colocar direto no escrito 2, mas eu inisti por que algumas bases de gramática eu ainda não tenho. Esse curso tem muitas coisas boas para nós, entre elas: vamos receber uma ajuda de custos do governo (tipo uma bolsa) que vai segurar nossas pontas nestas 11 semanas de curso; o curso é aqui perto sempre vamos de bici; é um curso oficial, portanto inclui atividades de integração, palestras informativas etc que são bem úteis; é um curso mais estruturado do que o que eu estava fazendo, por mais chato que seja eles puxam na gramática e é isso que eu preciso;são mais horas/aula/dia - das 08:30 as 15:15; os colegas são muito simpáticos e divertidos( terras natais: Egito, Líbano, Afeganistão, Paquistão, Colombia, Argentina, China e... nós). As coisas que não são tão boas: inacreditavelmente as criaturas me botam um professor imigrante também para este curso (e com pouco tempo de Quebéc). O cara é até legal, apesar de eu achar a criatividade dele abaixo de zero. Mas o que eu acho brabo é que, neste tipo de curso, deviam colocar os professores quebecois "da gema"para a gente entrar em contato com a cultura, com o sotaque e tudo o mais. No entanto, nosso professor é originário do leste europeu. O outro curso que eu fazia era menos estruturado e isso era um pouco ruim pra mim, mas a profe era uma a quebecois das mais típicas que voces podem imaginar, isso era bom. Enfim... como eu já disse, sempre se perde alguma coisa nas escolhas. O Rudi disse que eu impliquei com o cara (como se eu fosse implicante... injustiça!hehehe coitado!), só por que eu sou a única da classe que consegue brigar com ele em frances e detesto quando ele não quer responder as perguntas de algumas pessoas e diz "não se preocupem com isso agora!", fico realmente tres fache! Ele ficou louco comigo por que estava dizendo uma bobagem sobre a formação do subjuntivo e eu repliquei. Ele teve que admitir que eu tinha razão, mas disse que a "turma ainda não estava naquele nível". Eu, que já estava p... (não interessa o nível da turma, ele não pode tratar as pessoas como imbecis e ainda ensinar coisas erradas), falei pra ele que tinham me colocado naquela turma "desolée!". Na verdade tem muitas coisas que eu quero e estou revisando, só de ser obrigada a fazer aqueles execícios chatérrimos, mas muito úteis já vale a pena, mas não me venha com arrogancia... Além do professor temos uma monitora e algumas outras pessoas que vem em sala de aula falar de temas específicos. No fim eu e o Rudi voltamos rindo e nos divertindo com as histórias da turma. Como é bom ser aluno, só que já foi professor é que sabe! Agora, essa história da língua aqui no Québec (famosa lei 101) é realmente algo a se preocupar. Eu pensava que eles te ofereciam cursos até que tu estivesse mais, digamos, fluente. Mas não é assim. Voces precisam ver o nível da nossa turma. Quase todo mundo chegou sem pra ticamente ne-nhu-ma noção de frances aqui no Québec. A galera é até fluente no ingles, mas frances, rien. Como é que pode? Vejo o pessoal no Brasil se preparando pra entrevista, se puxando, o que eu acho que deve mesmo acontecer já que escolhemos essa província. Mas não é o que acontece com a maioria pelo jeito. E o COFI pelo jeito não adianta quase nada pra quem chega aqui no zero (pelo exemplo de meus colegas). Ou seja, eles saem do curso após 33 semanas (tempo total dos níveis 1,2 e 3) e seguem sem condições de arrumar um emprego que exija o nível intermediários de frances. O que vai acontecer? Vão pegar empregos que exijam apenas o ingles. E aí? Adiantou pra que o COFI? Isso eles já podiam fazer há um ano atrás. E não é que as pessoas não tenham condições ou não se esforcem. Imaginem ter que aprender um idioma novo, em um alfabeto que não corresponde em nada ao que aprendeste na tua alfabetização ( caso de alguns países árabes, da China...). Realmente não é fácil! O que me pergunto é que bendito critério de seleção de imigrantes é esse.Tudo bem que tem outras categorias de imigração, mas nem todo o mundo é refugiado. Bom, mas são só considerações políticas e nem quero me aprofundar muito nisso, mas acho que a integração fica realmente difícil sem o domínio básico da língua e, aqui em Laval e Montreal, muita gente se vira só com o ingles, então o que vai acontecer com nosso amado frances daqui a pouco? Por esse andar da carruagem... sei não... Mas voltando a temas mais amenos, agora minha casa respira frances. É bem legal por que pais e filhos estão no mesmo barco, então todo o mundo se ajuda, um quer saber mais que o outro, um corrige a pronúncia do outro. Ontem falei não sei o que pro Pedro e disse "bien", com o sotaque standard. Ele me corrigiu enfatizando o "e": "Não é biãn mãe, é BiEn", ao que a Giu acrescentou: "Não Pedro, é que a mãe aprendeu auquele outro frances... aquele que a madame falou...". Eu me senti uma anciã falando uma língua ancestral (que tal essa, Cris?). Tomo muito cuidado para não corrigir o sotaque quebecois deles, já é muito trampo aprender uma língua sem uma mãe a pentelhar e afinal eles moram aqui não é? Outro fato legal é que agora eu e o Rudi estamos "ficando" (doze anos depois...). Estamos tendo um tempinho pra por o assunto em dia, fazer alguns planos e conversar mais, já que quando a galera está por aqui é um Deus nos acuda e todo o mundo quer falar o tempo todo. Descobrimos que é possível trabalhar, mesmo fazendo o curso, que nada te impede. Então esse lance de que te tiram a bolsa se tu fizer uns bicos não tem nada a ver. Mas o legal mesmo é aproveitar a chance ao máximo e dar tudo de si pra vencer essa barreira o mais rápido possível e se ver livre deste problema da língua. Vou terminando em clima de francisação, com um Pensée du Jour do jornal 24 Heures: "Un enfant prodigue. c'est un enfant dont les parents ont beaucoup d'imagination." (Jean Cocteau)