Pois é, galera, já foram seis... meio ano... Exatamente hoje, há seis meses atrás, embaixo de uma baita neve, estávamos chegando em Montreal. Sem nunca termos colocado nossos pés no Canadá, sem lugar reservado para ficar, sem conhecer nenhuma (repito: nem mesmo uma) pessoa aqui, com nossas treze malas, nosso frances meia-boquérrimo, nosso ingles idem, nossa coragem e nossa vontade de chegar. Que medo! Acho que sofro de medo retardatário... Lembro que foi um esforço para me comunicar no telefone e encontrar um hotel, mas achei, bem no Village Gay, por sinal. Lembro que fui saindo pela porta do aeroporto para falar com o rapaz responsável pelos táxis, só com meu moletom e que, logo que as portas automáticas se abriram, veio aquele friozaço na minha cara e eu voltei pra dentro correndo. O Rudi (que como sempre tava me cuidando de longe) riu e falou: This is fucking north america, baby! Nunca vou esquecer desta frase! Lembro que chegamos no hotel antigo e aconchegante e que eu pensei: cuidado com o que tu queres muito, tu acabas conseguindo! Eu tava aqui, eu tinha conseguido chegar (menos mal), eu tava começando a realizar meu sonho, mas eu tava com medo. Confesso: medão! Mas eu tava tão feliz, eu achei tudo tão lindo, eu achei todo mundo tão legal... que quando alguém me dizia "Bienvenue au Québec" ou "Welcome to Canada"eu quase chorava (detalhe: eu ainda quase choro, seis meses depois). Bom, agora, six months later, eu olho prá fora e olho prá dentro. Eu olho pra fora e vejo um ape bem mais equipado, muitos brinquedos, camas, um sofá. Vejo o supemercado e a farmácia que já não escondem tantos mistérios. As linhas de onibus e metro também não. O campus já é mais conhecido e começa a ser um pouco (muito) a segunda casa. Percebo que o frances vai indo cada dia melhor. A agonia agora é que consigo entender praticamente tudo (até no telefone e no rádio...hehehe), mas prá falar ainda não é tão rápido e isso me angustia. Consigo dizer tudo o que quero, mas queria ter estilo, fazer as ligações melhor e, de preferencia, diminuir o sotaque lusófono. Tá, eu sei que vem com o tempo, mas por acaso alguém ainda não percebeu que sofro de "um pouquinho"de ansiedade? Ansiedade é vida, e mesmo psicoloucos, tem direito a ela. Sobretudo, eu olho pra fora e vejo amigos. Amigos de tudo que é jeito, nacionalidade, preferencia sexual, nível educacional, etc. Lembro que uma coisa que me deu medo foi quando fomos fazer a matrícula das crianças e pediram o nome de algum amigo, no caso de eles não nos localizarem em uma emergencia. Reposta: não conhecemos ninguém. Lembro que fiquei triste, me senti muito sozinha. Quando eu for semana que vem, fazer a matrícula, eles vão me perguntar de novo e (voyons donc!) eu posso escolher os telefones que vou deixar. E o melhor, sei que nenhum de meus amigos vai se importar com isso, ao contrário, eles vão ficar felizes de poderem nos dar (mais uma) mãozinha, caso (Deus o livre!) seja preciso. A todas essas pessoas maravilhosas que nos acolheram e continuam a acolher tão bem, nosso mais profundo agradecimento, voces são os melhores amigos do mundo. De verdade! E o melhor é que o grupo (ou os grupos) continua crescendo e isso é uma delícia.
Aí eu olho pra dentro. Caraca, que bagunça! To tentando fazer uma pequena ménage pra poder contar pra vcs o que se passa lá. Muitas coisas aconteceram lá dentro. Como diria o Roberto Carlos "são tantas emoções", e quem me conhece sabe que minhas emoções são... digamos... um tanto quanto... emocionantes! Quero dizer que, por mais que eu tente, não consigo sentir "um pouco", "de leve". Ah! Como eu gostaria! Tudo é muito forte, e quando é mesmo forte, fica ainda maior. Alegria não é um delicado sorriso nos lábios, é uma gargalhada seguida de pulos, danças, lágrimas e comemorações. Isso só pra dar um exemplo básico. (Após seis meses de blog, não adianta mais querer convencer ninguém da minha "normalidade" hehehe.) Bom, mas olho lá e vejo que a felicidade é mais forte que tudo. Vejo que aprendi a ter mais fé, a conversar mais com o Cara lá em cima. vejo que aprendi a gostar mais de mim, a me admirar mesmo, a achar que sou uma louquinha do bem, que quer mesmo é criar os filhos (minha maios paixão) da melhor forma possível, trabalhar muito (minha paixão grande), curtir minha família e meus amigos, viajar e estudar, estudar e estudar. Graças a Deus estou conseguindo devagarzinho fazer tudo isso, mas podem esperar que vem muito mais por aí. No candomblé minha mãe é Yansã, a mulher tempestade, ventania. Acho que explica um pouco esse meu jeito de não parar, de não ter (muito) medo do novo, de não suportar o estagnado, o parado, que pra mim é o podre. Sei lá, pelo menos eu gosto desta explicação, dentre as tantas outras que existem pro meu jeito. A verdade é que eu me dei conta que comecei a me conhecer ainda melhor, e ainda bem, to gostando. Ontem tive uma conversa com uma colega canadense, ela me perguntou assim: o que vc encontrou aqui no Canada? Sem pensar, respondi: surtout moi meme (sobretudo, a mim mesma). E isso é muito verdade. Mas o que realmente resume meus seis meses de Québec, é um outro fragmento da conversa com essa nova amiga. O diretor havia me apresentado como "la bresilienne"(como sou conhecida na universidade) e depois da reunião ela veio me cumprimentar e disse assim: "Je veux te saluer parce que j'adore ton pays"(Venho te cumprimentar por que adoro o teu país) e eu, de novo sem pensar, "Et mois, j'adore le tien"( E eu adoro o teu). Ela riu e eu ainda repeti, "J'adore le tien". A verdade é pra ser dita!